os professores não vão em carnavais

a professora levantou o dedo e apontou a porta da rua, por onde, balbuciando desculpas, saiu o menino mascarado de diabo.
a professora marcou a falta com tinta vermelha e registou qualquer coisa na caderneta.

só depois disse: meninos, hoje vamos representar o auto da barca do inferno!



(de há muitos anos para um programa de rádio pirata: círculo virtuoso, penso eu.
veio agora a propósito daquilo a que chamam "negociações de resgate")

Nada, mas mesmo nada

Por estes dias, os dedos podem fazer pouco por nós. E nós podemos fazer pouco pelos dedos senão dar-lhes descanso na esperança de os podermos vir a utilizar num futuro próximo sem dor. Dizer isto é dizer tudo. Que é o mesmo que nada, bem o sabemos.

nandita- fábrica de cores

menos olhos que barriga

A política olha para a destroçada barriga
Aberta pela venda lucrativa da mina traiçoeira
Até  perceber  uma diplomacia  que lhe diga
da gangrena ser menos boa que a cegueira


Ai, a que colhe  ramos de oliveira  vai tropeçar
Em seu  vespeiro  de  palavras  voadoras

E caindo a pique sobre o ninho das metralhadoras
A pomba apenas sente uma pena a soltar-se no ar.



Há crianças tão leves que tropeçam nas borboletas
E caem. Pairando no ar por  momentos
Como uma realidade que sustém a respiração.

Há mulheres tão finas que passam entre os pingos de chuva
E caem.  Como juncos levados pelos ventos
E são as fitas do chapéu que pesam para o chão.

Há homens tão grosseiros  e belos feitos estátuas de cal
E caem.  Pesadamente caem  como braços do arado
Na paisagem  lavrada pelos dedos de uma mão. 

quem anuncia o fim do(s) princípio(s)?

Os responsáveis pela situação a que chegamos anunciam-nos que só eles nos podem conduzir para fora dele porque conhecem o caminho até aqui, bem com conhecem bem todos os figurões que organizaram (e lucraram com) o descalabro e que podem ser influenciados no bom sentido da oportunidade em que um descalabro pode travestir-se. Eles esperam que o bom povo se deixe convencer pelas trampas que pretendem maximizar em seu proveito a crise até não haver qualquer alternativa audível e tudo ficar resumido a alguma coisa que é ps+d-d. Se isso vier a resultar do concerto eleitoral que aí vem, este fim de semana desconcertante será o princípio de outro fim, um anúncio da vitória da maldade pura, da falta de vergonha, da falta de princípios, da falta. Resta-nos o quê? Uma revolta feita de muitas pequenas revoltas, individuais e colectivas.
Antes de me despedir por uns tempos das mãos que pouco escrevem, dou conta de que a cabeça conta mesmo quando não escreve nem fala nem desenha.

desenhando

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...