A voz do poema que ouvimos



O POEMA QUE MARIA BARROSO 
MAIS GOSTAVA DE DIZER

Abafai meus gritos com mordaças,
maior será a minha ânsia de gritá-los!

Amarrai meus pulsos com grilhões,
maior será minha ânsia de quebrá-los!

Rasgai a minha carne!
Triturai os meus ossos!

O meu sangue será minha bandeira
e meus ossos o cimento duma outra humanidade.

Que aqui ninguém se entrega
-Isto é vencer ou morrer-
é na vida que se perde
Que há mais ânsia de viver!

Joaquim Namorado


(lembrou  Firmino Mendes)

relações em concorrência

Passa-me óleo pelas costas. Passa-me o creme na cana do nariz. Passa-me o microfone de mão em mão. Passa-me o óleo de rícino pelo peito. Passa-me o óleo de fígado de bacalhau pela cabeça. Passa-me a minha amiga numa hora boa.

Passa-me metade da tua caspa para os meus ombros. Passa-me metade da canção no teu programa. Limpa-me uma lágrima de rímel se as lágrimas me vierem aos olhos. Passa-me palavras de admiração pelo pescoço. Passa-me os teus dentes de cavalo pelas costas.

Passa-me a tua inteligência laroca para o meu canal. Dá-me dois dedos da tua testa para a concorrência. Passa-me o vestido aferro. Passa-me a concorrência a ferro. Gaba-me os índices de audiência do meu programa no teu programa da concorrência.

Podes assoar-te nas minhas costas. Passa-me o anúncio em que apareço ao lado do macaco de sucesso. Passa-me a canção do bandido. Passa-me o bandido da tua notícia. Eu quero-me bem passado.

Passa por mim no Rossio. Passa-me o fado ao lado. Passa-me o secretário de estado que mora no teu prédio. Passa-me o estado interessante. Passa-te.

Passa-me margarina vegetal pelo couro cabeludo dos meus sapatos. Passa-me bem o bife que negoceia a paz entre os bandos da “biela” do intendente. Passa-me um plano de mim em cima do leão do marquês de pombal. Passa-me de cá para lá. Deixa-me dar umas voltinhas no teu programa.

Passa-me a salada. Passa-me a salada russa. Passa-me as mãos pelo dorso. Passo à mesma hora que tu. Passo no horário nobre. Passo a passo, passo-te. Deixa lá que depois eu levo-te ao meu programa. Passo-te a cadeira de rodas.

Passa-me o comando.

afago de lápis

em louvor do professor de direito, comentador que dá notas e candidato a presidente


Os olhos estão colados no infinito
enquanto a boca do professor e profeta
murmura uma oração de sapiência.

Se uma mosca bate as asas nas trombas de um mosquito,
um shhhh salta das bocas do público pateta
trnasformado em douta audiência.

O doutor acaba de grasnar: um importante 
facto cultural, um acontecimento
só visto! pela sua parabólica mais fantástica.

Então, o chefe de cerimónias, locutor e tratante,
abre a sua boca de jumento
para elogiar o desgarrado monólogo da bruxa asmática.

E pede ainda mais umas palavras que fechem
o discurso magistral
do doutor de direito e analista

Este cospe então as classificações que merecem
os donos da vida nacional
como quem distribui aos corvos, a merecida alpista.

Findas a análise e a previsão
que o discurso magistral condensa
vai o público em paz para a micha

E comungam entre si, após a dominical celebração,
o que ele disse  como sendo o que cada um pensa
assim como se houvesse pensamentos em bicha.


(Pretextos, 198x?)

as datas vistas pelos seus avessos

e se contássemos os  que foram assassinados
pelos fascistas,  pela direita deste rectângulo, 
antes do 25 de abril de 1974 e também depois
antes de contarmos os que a esquerda poderia


dupla hélice

Firmino Mendes - Soneto

SONETO PARA ESTE MINISTÉRIO


 Ó crapuloides tonsos desitantes
 Artimigos tropálios desancantos
 Par rivistas pervértidos acantos
Tomatoides arcansos arfestantes

 Ó micustatas cãs de resinantos
 Putéfias fientas e lepantes
 Ó abastardos micos porcalhantes
 Escolossos daláquas desorantes

Se houbordar infumo morativo
 Neuscapitel morfeito desabundo
 Apuntunga fitanga desamundo

 Ah hei ah hei putango pilharundo
 Filhostero lixoide e instalido
 Sarjetário de brai e merdestido


 Firmino Mendes, fevereiro 2015

Firmino Mendes: Também eu sou Charlie

 Também eu sou Charlie

Matem-me! Eu também tenho 
marcadores, lápis, canetas
Também sei usar a cor das 
trovoadas

Apaguei deuses e dogmas do 
meu suor
Bani as sombras e os sofismas
Aboli a infâmia do meu coração

Chamei os bárbaros para a mesa
da democracia, da tolerância e da 
laicidade
Responderam-me com poções
mágicas, benzeduras e venenos de 
deuses

Matem-me agora na mesa quente
dos desenhos e cartunes
onde a arte toca o sangue

Também quero pertencer ao gesto
que riscou as cavernas

Firmino Mendes
            Lisboa, 08.01.2015

"Pamelia Kurstin: Theremin, the untouchable music"

Arselio Martins partilhou um vídeo consigo no YouTube
"Pamelia Kurstin: Theremin, the untouchable music


por TED
http://www.ted.com Virtuoso Pamelia Kurstin plays and discusses her theremin, the not-just-for-sci-fi electronic instrument that is played without being touched. Songs include the classic "Autumn Leaves," Billy Strayhorn's "Lush Life" and a composition by David Mash, "Listen: the Words Are Gone." Piano: Makoto Ozone.


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noite feliz!

tudo terás com abundância e de tudo comerás! - assim te manda a bondade do menino filho de uma mãe sem abrigo e de um pai ausente em nuvem incerta. e tudo comes na noite feliz e quando já não sobra coisa que se coma darás por ti a comer-te depois de seres comprado por ti ao dono do burro.

o desenho do melhor perfil

despudor claro

quero não me levantar ou antes  não levantar os ohos  para ver lá fora   e ainda não tinha olhos que não chorassem comigo   pela seguinte cu...