feito, desfeito, ouvido, vivido.... talvez repetido




1





Morres um pouco cada dia de vidro
brilhantes meninas dos olhos
dos meninos do fereiro do espeito de pau
na casa da eira entre os sacos

ouvias dizer de milho mas a verdade?

O ciúme como fio de ferro ao rubro dentro
de uma orelha à outra
voa ainda hoje pelos capilares do corpo

à alma em que não crês para sofrer menos.



Quanto pau tem a faca a mais que ferro
ou a roda de um carro ou a gadanha da morte
ou a foicinha ou a enxada que abre a regueira
no lagoaceiro e guia a água até ela se sumir

o leve areal onde o milho não sobrevive
e a abóbora raquítica te serve de desculpa
para veres as pernas das cachopas passando
com carrregos de feijão arrancados pelo pé

mal se endireitando para murmurar coitado!



2





O meu avô sentava-se na berma da 109
lia o jornal do dia e os livros da América
acenava a quem passava, falava pouco.

Se me lembro de coisas que ele fez?

uma guitarra, piões, bustos de mulher
em pedras de ançã de salvados do cemitério,

Mas lembro melhor como a minha avó as desfez
a golpes de machado enquanto murmurava:

antes fosse só bêbedo

sem arte, sem literatura, sem mistério.






3





O ferro vermelho batido na bigorna
era temperado a negro pelas águas
da celha do velho Calças do Lameiro
antes de colher a vida do porco do vizinho.

Entra pela maçã de adão mais saliente
para o guincho estridente do dia do juízo
o ferro que entra no coração da gente.

Com um ramo de louro o estertor bate
à tona do sangue o sal o vinagre e o cobre.



O cobre martelado ouve-se bem
quando canta a forma que toma na vigorna
e brilha reflexos de ouro na paz do dia
para que te preparaste e as tuas bodas

e o ataque de coração que temias demais
acontece como o toque a rebate de finados
vem lembrar-nos no bronze do alto sino
que foste no teu tempo o homem que viu

sístole e diástole bombeando veneno.




4





As mulheres dispensam as lâminas das facas
para separar a renda das tripas cheias e
fazer as partilhas comunais do sangue talhado

e desmanchar o corpo que o pino enxugou.

Eu vi como as unhas cavam as fronteiras
entre as peças como linhas de soldadura
prontas a ceder à carícia da mão assassina

à feminina lascívia em passeio pela carne.



2002/09/10 - oração

(enviada em Setembro de 2002 para O Aveiro [oaveiro… netcabo… pt] nesse tempo(?)
em que tropecei hoje) Não me lembrando agora e não sabendo se foi publicado ou não..... vou procurar saber...



oração pelo dia seguinte


Todos os bons deuses de todas as religiões são infinitamente bondosos, justos e misericordiosos, para além de estarem cheios de compaixão por todos os seres sem excepção.
E eu sei, bons deuses do mundo, que de vós não há razão para esperar maldade. Eu sei que, onde existis, estais cheios de compaixão para com esta humanidade atribulada. Mas sei também que não tendes qualquer controle sobre aqueles que se declararam vossos instrumentos nesta terra. Se tal vos fosse possível, bem eu gostaria que não deixasses os malucos deste mundo continuarem a invocar os vossos santos nomes em vão.


Em nome do deus do ocidente (deus e capital) os nossos impérios (e os nossos imperadores invocando a fé) destruíram e destroem países, massacraram e massacram inocentes fiéis e infiéis nos cantos do mundo. Em nome de alá se massacraram e massacram fiéis e infiéis em todos os cantos do mundo. Em nome de outras religiões ou ideias e doutrinas se massacra neste mundo. E todos massacram o planeta azul, pequeno para tanta maldade humana. De tal modo e monta isto é que eu já nem sei como sobramos vivos. Devemos agradecer a vós, deuses, a dádiva da nossa improvável vida?


Mudai,oh deuses!, a cor deste mês de setembro - setembro negro, setembro de pinochet, setembro das torres gémeas, … - e deixai que os meses dos calendários humanos sejam coloridos pelas cores da paz em vez da guerra, do amor em vez do ódio, da vida em vez da morte.


Se todas as religiões têm deuses para abençoar e paraísos para prometer também têm diabos e infernos para ameaçar. Pena é que falem de céus e infernos para depois da morte, quando a verdadeira ameaça é a de transformarem a nossa vida e da humanidade num inferno.


Se não for pedir demais, oh alá!, livrai o povo do iraque do seu déspota e fazei o mesmo em similares sultanatos e emiratos. Em troca, não me cansarei de rogar ao nosso deus que nos livre dos impulsos guerreiros (contra o iraque e o mundo) dos nossos demoimperadores que, viciados em petróleo e outras especiarias, "snifam" o cheiro do poder nas hecatombes que provocam.


E perdoai-me, deus, por descer ao nível do nosso inferno caseiro. Sede misericordiosos com o nosso chefe guerreiro paulo portas que invoca o vosso nome para a sua governação. Ajudai-o a desatar o nó da corda que teceu para se enforcar e o nó da garganta que ora lhe tolhe a fala. E perdoai-o nesta hora em que ele já não sabe o que não diz!

a primitiva casa:





1. em memória do poeta de aldeia



é verdade que não lembra as datas em que morreram
(como poderia lembrar-se da data em que nasceram?
se ainda não tinha nascido)
nem pode recordar a nitidez das pessoas e dos locais que descreve
porque não vivia no tempo em que deram as caras ou as varandas
à luz do so que os tisnava para ganharem a cor para ganharem a cor
que os seus olhos viram depois
ao avizinhar-se de todos eles
como se fosse o estranho da famíia
que vai a enterrrar num antigo curral de porco.





2. sobre raimundo, o poeta



Raimundo é um poeta de má memória.

Pensa-se que nasceu na região daveiro, mais
propriamente num lugar conhecido por trásdamoita
ou lagoachorida, da actual freguesia de santandré a
concelhosvagos.
Não se conhece a data de nascimento ao certo, mas
pensa-se que morre em dezembro de todos os anos. Dele
se sabe que nunca quis aprender a escrever e muito menos
a ler, mas que frequentou a escola primária pública da
sua aldeia, assim como frequentou a catequese e fez a
primeira comunhão.
Há quem diga que fez o crisma e escolheu élio martins
para segundo nome.
Os seus escritos dispersos e considerados obras sem
qualquer interesse ou importância têm vindo a ser desenterrados
por um obscuro professor de matemática do ensino secundário
que dá pelo nome do arsélio. Arsélio martins
afirma que descobre os papéis de raimundo na estrumeira
do pátio da casa onde nasceu e não cresceu.
Durante vários anos, o pequeno martins, até um homem sem
energia e sem grandes convicções, ou pelo menos pouco
dado a valorizar o seu trabalho, publicou em alguns
suplementos de jornais e revistas, ao sabor da sua
desorganização mental, alguns dos textos que recupera da
da estrumeira da sua vida. Muitos dos textos estão de tal
modo tratados e acrescentados (até pela inserção de
dados que não podem ser do conhecimento de raimundo) que
não podem deixar de se considerar completamente
reinventados pelo profesor de matemática.
Da mesma estrumeira, arsélio pequeno retirou a maior
parte da sua cultura. Sabe-se que, sendo homem de
várias leituras, o actual professor obscuro começou por
ler obras carregadas de ateísmo e cientismo escritos
obscuros de um seu avô, velho regressado da américa do
norte onde tinha permanecido durante trinta e cinco anos
sem ter dado notícias.
Do mesmo modo leu obras de autores brasileiros que
enchiam uma arca enviada do brasil pelo seu pai a
acompanhar promessas de regresso que nunca se chegaram a
cumprir. O rasto desses volumes perde-se nas
estrumeiras do seu pátio, que foi, muitos anos depois,
um pátio cimentado onde se guardou um fiat 127.
Hoje, a confusão é total a respeito da autoria da maior parte
dos escritos. Ninguém pode dizer onde começa e acaba a obra
de raimundo; muito do que aqui se divulga pode ser coisa escrita
por arsélio martins que a sua imaginação doentia e supersticiosa
atribuiora a raimundo ora à assombração de raimundo. Seja
o que for, é aqui e em mais nenhuma memória.





3. a felis disse-me: o meu home há-de morrer cedo



a felis disse-me: o meu homem há-de morrer cedo
mas o teu irmão vai para a tropa e morre ainda mais cedo

a felis disse-me: o meu homem há-de morrer cedo
os meus filhos esses hão-de partir para a venezuela ainda
crianças que já não tenho nem leite nem lágrimas estou seca
até chego a pensar que já não tenho sangue

quando me corto com a foicinha a apanhar erva fico convencida
que não vai pingar sangue nenhum eu dava-te um conselho
convence o teu irmão a ir ter com o teu pai ao brasil
pode ser até que estando lá ele convença um dia o velho
a voltar para a família ou a fugir prá frança mais perto afinal.

ainda hoje passados tantos anos penso que a felis
a falar como coração é melhor a acertar
que a bruxa da carregosa que fala com a voz da razão
e da ciência dos espíritos.





4. mas no tempo em que ela me falou pela últma vez




Mas no tempo em que ela me falou pela última vez
nunca me passou pela cabeça que um irmão meu
pudesse matar e morrer a não ser por desgraça.

andávamos sempre à purrada.
hoje penso que éramos assim violentos e briguentos
porque não conheciamos outra forma de jogar o tempo e de fazer
exercício que desse saída à força física e à inteligência.

porque era nas brigas que aplicávamos toda a maldade
e que era essa maldade senão inteligência?
talvez brigássemos porque os contactos físicos e os abraços
não eram bem vistos de qualquer outra forma
eram uma vergonha.
se calhar brigar era abraçar o amigo de uma forma mais apertada
se calhar o senhor padre manel sabia isso como eu agora sei
e por isso quando confessava uma briga que ele tinha visto
ele aconselhava a que me afastasse dos maus pensamentos

será que nós mordíamos quando queríamos beijar-nos?





5. já tinha começado a guerra em angola quando




já tinha começado a guerra em angola quando a aldeia
teve luz eléctrica apesar de estar nas bermas
da estrada nacional 119
um castigo foi o que foi que
a luz tornou tudo mais claro até o que devia
estar escuro ou no mistério.


fora a estrada nacional era só canminhos de carro de bois
e a estrada estreita para sanromão toda esburacada à passagem
dos camiões que arrancavam o barrro às encostas da monteira.

durante muito tempo aquelas terras deram cardo e erva rasteira
que servia para as camas do gado que também era bem precisa.
quando o ti conde começou a comprar aqueles barros todos
pensou-se que era para criar erva e criar gado.


como imaginar que venderia a terra em vez do que a terra dava?
se eu passava por aquelas covas onde antes era nosso barro
preso nos moldes e cozido em fornoda cerâmica
tinha a impressão que ali ao lado do pequeno cemitério
o ti zé onde
mandara abrir uma cova para enterrar a aldeia inteira.
dei comigo a cismar que não ficaria sem castigo aquele sortilégio.
de desventrar a terra sem ser para procurar água
ou deitar sementos na cama da sua vida.
mais tade uns anos o ti zé onde finou-se.
e obriguei-me a não dizer os meus pensamentos a ninguém





6. o marido da felis era o dino dos srotos




o marido da feliz era o dino dos rotos.

o pai do dino - ti antónio - era um homem tão pequeno
que metia impressão a genica que ele tinha
aquilo era um mouro de trabalho que teve tempo
para uma boa ninhada de serotos.

as serotas sempre a trabalhar nem tiveram tempo para casar
se alguma se casou foi numa paragem da vida
se calhar namorou nos funerais e nas procissões

nenhuma se rota namorou no funeral do clau dino que morreu novo
deixando viúva nova com as crianças já emigradas e um sogro
imortal.

já os rotos namoravam que os homens sempre podem fugir
pela noite e procurar guiados pelo vento.

dos dois irmãos do dino há um que é muito forte e tão cheio
de sangue que até parece sempre prestes a jorrar-lhe da pele
da cara que até ia dar ao hospital o sangue que lhe sobrava.

nunca consegui perceber como é que aquele bom bruto do diabo
acabou por casar com a neta do barqueiro da tódia,
a ção, que era uma mulher desempenada e elegante
e a quem não lhe visse as mãos bem calejadas
em certos dias aparecia uma senhora distinta em trajes de aldeia
como aquelas dos ranchos folclóricos das cidades.





7. penso que o mica que é o meu irmão mais novo e




penso que o mica que é o meu irmão mais novo e
perdeu a vida em angola andou por lá a tentar namorar
a filha da ção serena

ia por lá com a desculpa de ser amigo do irmão

não sei porquê.... tenho essa ideia.

o mica não quis fugir porque pensava ir para voltar
e pensou que quem foge não pode voltar.


quando voltou, se é que se volta quando se está morto,
era o dia 29 de fevereiro e não me lembro de ver
a acompanhá-lo as raparigas da terra e,
se calhar, já estavam todas faladas pelo emigrantes
na venezuela, que casam a troco de cartas de chamada


ou porque não vale a pena namorar os mortos.





8. a felis teria gostqado do mica




a felis teria gostado do mica vivo depois da guerra
e casado com a sobrinha? hei-de perguntar-lho
afinal estamos todos vivos menos aqueles que matámos
enterreados no passado das aldeias pequenas onde não passa
rio para o esquecimento.


a dormitar à lareira ouvimos os mortos volta na fala
cega-rega de uma velha que dá pelo nome de "boa mimóira"
e se lembra de todas as passages e se não se lembra
à sua maneira conta o que devia ter acontecido.


antes da luz eléctrica havia mais bruxas e lobisomes.


estava escura, via-se mal, mas via-se realmente...


estava pendurada em si…mesma

Alberto Caeiro escolhido agora

O meu olhar é nítido como um girassol
TEnho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás……
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar or isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Portque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza, não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Poema
de ALBERTO CAEIRO

Cartilha Trágica

Disseram-me os homens
Que o mundo está em guerra.
E eu fiquei riste.
Fiquei triste, porque é o homem.
Quem faz as guerras,
E eu sou homem
E sei por que razão
A guerra existe.

O jornal dos homens
Fala sempre em guerra,
E a tinta do jornal
Grita mais do que os homens
Que o lêem descansados
Ao seráo,
Chinelos calçados,
Cigarro na mão.

Os filhos dos homens
Brincam com armas
E atiram com torrões de terra.
E eu tenho a impresão
Que aprendem a lição
De uma futura guerra.

Infância, pureza e inocência,
Em ensaios de discórdia
E de demência

Arcos/12/1964

Gritos de Pedra, Nurmi Rocha
Município de Arcos de Valdevez, 201212

nunca saberei o que sei lapidar ... a lápis

encontrei-te não por seres folha mas folheando


ele e o seu animal em bolha desgraçada

da tirania (a partir agora um caderno de setembro de 2004)

da juventude

não me digas que as comeste
porque ninguém,
nem a tua mãe,
te tinha dito que as lâminas
de barbear não se comem?

como se não houvesse paixão
no rato de biblioteca


quando passeia pelo buracão
de entre livros uma e outra seca
de cozer em lume brando
quando o poema já escrito
numa mesma e sempre nova até quando
vezes sem conta só finado pelo grito


que os poemas são citações
ditadas para laboratórios
onde não entram emoções

se já não há tuberculose nem sanatórios!?
!?!
?!±

que estudavas tu de “remarkable”?

de outro mundo mais claro … antigo

Amor impresso na alma, que dura depois das cinzas.

Se a minha morte de meu amor viesse que parto tão ditoso que seria o deste amor contra o que em mim vivia! Que glória, que o morrer de amor nascesse"

Na alma eu levaria onde estivesse o fogo em que me abraso e guardaria sua chama fiel côa cinza fria mesmo no túmulo onde adormecesse. Dessa outra parte da morte mais dura viverão em minha sombra meus cuidados. além do Lote a minha memória.

O doido vencerás pila formosura: com pura fé triunfará dos fados e o não ma ser, por amar, ser-me-á Francisco de Quevedo (1580-1645) glória.
IV. Barroco. José Bento)

sobre uma força acrescentada ao livro

agosto de 1992
praia
rádio nova
aresta

notas escritas para dizer depois da praia


Todos os dias o víamos chegar à praia. "À praia!" é uma maneira de dizer. A mulher que o acompnhava vinha estenderduas toalhas à beira do mar, e , por ali ficava umas horas deitada numa delas. Por vezes levantava-se e ia molhar os pés, o rosto e a cabeça. Ele nunca metia os pés na areia.
Sem dizer uma palavra, antes de entrar na areia, ele virava à esquerda e ia instalar-se numa cadeira na esplanada do barzeco que ali havia. A empregada já sabia e trazia na bandeja uma bica, um quarto de pedras e um copo.
De uma pasta velha, via-se que ele tirava uns livros e um caderno enquanto olhava distrído para o mar. Muitas vezes via-se que olhava para a mulher deitada lá ao longe. Lia a maior parte do tempo. De vez em quando, escrevinhava no caderno de capa dura, com aplicação.
Pensávamos que devia ser escritor, professor ou coisa assim.
Era assim, todos os dias, até este ano. Agora é quase assim: ele vem, vai sentar-se na esplanada, tira os livros. Mas em vez do caderno e da caneta ele põe em cima da mesa uma pequena máquina do tamanho do caderno. De vez em quando, como antes escrevia, agora bate no pequqeno teclado, com aplicação. Textos? Cálculos?
Pela empregada do bar, ficámos a saber que agora, ele usa um PowerBook.....
E não sabemos mais sobre ele. Fazemos apostas sobre o dia em que ele vai atravessar o areal e deitar-se na toalha que a mulher todos os dias para ele estende cuidadodasment.


dizer mais tarde das casas aos arquitectos

(1)
«Falemos de casas. E das doces mãos que as afagaram nos estiradores. Ainda antes dos pedreiros desenharem, pedra a pedra, as linhas dessas mão aventureiras. ¿Que outros olhos podem arriscar a luminosa dimensão do habitante futuro? Falemos de arquitectos, de uma batalha, do poder antigo dos deuses que criam as casas para cada um, segundo asua felicidade. Falemos da paião da deseordem na criação, falemos da ordem na construção. Falemos de harmonia e luz.
De uma janela nocturna e vaga, um arquitecto vê a cidade e sorri quando descobre, ao longe, a sua impressão digital.
(2)
Falemos de cass na paisagem. O poder dos deuses é esse: na paisagem espalhar uma casa aqui uma casa ali. Ao distribuir as casas se distribuem as pessoas, os animamis, as plantas, as pedras. A vida é feita das companhias, das que rastejam para o buraco da cave/caverna, das que voam para a boca redonda de um ninho na montanha da casa, das que estão na espera da luz e da sombra, das que pairam como a neblina da manhã. A vida é feita dessas linhas. Esperamos dos arquitectos essa graça de amar a paisagem, em paz com ela, em guerra com ela.
Se alguma estrutura rasga o céu, há um risco que o lápis não concluiu e há um arquitecto que se sumiu no vento. Falemos de arquitectos, falemos da arte, falemos da ciência, falemos dos construtores do mundo.

(3)
Quem desenhou a tua porta? Quem decidiu que a tua janela abre para esses lado da vida mais sossegada? Quem desenhou o passeio que te guia os passos? Quem imaginou o labirinto em que te perdes? Falamos dos arquitectos, do desenho das margens dos rios que nós somos. Se falamos de nós e da violência dos rios que galgam as margens, porque não falamos as violentas margens que nos comprimem? Porque não falarmos dos arquitectos?

O cão escolhe o sítio. Desenha as suas fronteiras de cheiro. E nós? Somos levados pela trela a percorrer o labirinto desenhado pelo outro, o arquitecto. Saibas tu identificar-te com o arquitecto feliz com cão.


dos descansos
Hoje amanheceu sem sol. O nevoeiro tomou conta de tudo.
(1)
Ainda antes de me levantar soube tudo isso pelos ouvidos. A ronca do farol não descansou enquanto não invadia o meu torpor com o seu aviso à navegação. O meu corpo ainda navegou no mar dos lençóis por mais uns minutos, até quesenti o casco bater nas pedras. Antes do naufrágio iminente, acordei realmente.
Levantei-me. Tomei um duche e vesti-me lentamente. Enquanto me vestia, ouvi um resmungo a perguntar as hooras. Respondi: Dorme! Está muito nevoeiro e está frio!
Passei à cozinha, preparei o café. Com as persianas levantadas, sentei-me à mesa da sala a bebericar o café e a olhar para o manto de nevoeiro que não me deixava ver o mar.
Depois, com alegria, disse alto: " Bom dia para mim" enquanto ligava o computador e ajeitava as folhas as folhas dos esboços por onde me guio, ao ritmo da longínqua ronda do farol.


(2)

O poeta caminha a largas passadas pela areia húmida. Não gosta da areia nos sapatos e, por isso, arrisca-se ao assalto da água.
Quando é assaltado por alguma imagem que não quer perder, baixa-se e escreve com o dedo, na areia. Depois, agarra essa areia cujidadosamente e mete-a no bolso.
Tornou-se em motivo de troça para toda a rapaziada da praia, mas ele parece nem dar por issso. Ou não se importa mesmo nada.
Quando chega a casa, tira a areia dos bolsos e espalha-a na mesa. Já lá não estão as palavras. Mas ele está a vê-las na areia, enquanto liga o computador e as transcreve letra a letra para memória do deu Macintosh. Só depois de depositar as palavras no computador é que limpa a mesa. Com cuidado, para não riscar.
Quando Agosto chegar ao fim, o seu livro "Palavras de areia e vento" está pronto para ser impresso na Laser e entreguena editora.



Abril de 1993

Memória FM
aresta




(1)
Ontem imaginei as caras do amigo de hoje.
Procuro, pelas ruas de hoje, a face.
Nasci para te procurar em todas as faces e quando te encontrar hás-de ler-me os olhos. Saberás distinguir-me entre todos os outros vultos. Mas serei eu a mostrar-te o caminho e a forma das asas que te faltampara transpor o abismo entre o que pensas que não sabes e a liberdade toda que te quero dar.
Eu procuro a tua curiosidade criativa e esplêndida. Procuro a face irrequieta - a juventude da vida por descobrir.
Tu verás em mim o pecado, sem pecado, da mação original - fonte de todo o conhecimento do bem e do mal e da humandidade. Em busca do caminho de regresso ao paraíso, agora fonte da sabedoria sem limites, encontras-me como memória, caminho, ferramenrta, interface.
Eu serei feliz contigo.



(2)
Quantas ilusões guardas no teu coração? Quantas descobertas tens por fazer?
Se não te chegam os dedos das mãos para contar as paixões que queres viver e se é preciso procurar em todas as imagens, em todos os sons, em todas as palavras a descrição para as tuas emoções então aindda estás vivo e a vida está em todas as esquinas.
Há uma ciência e uma arte para os teus gestos . À primeira dão o nome de curiosidade, prazer na novidade, investigação. À segunda chamarão criatividade, expressão artística, gosto, desejo,e busca da beleza.
E eu espero os teus dedos, ágeis instrumentos da tua inteligência. Mais que uma ferramenta e extensão da tua inteligência, eu sou uma emoção a acrescentar à tua vida.
Quantas ilusões guardas no teu coração? Quantas descobertas tens por fazer?



(3)
Quando abres a gaveta, encontras um poema, uma carta, a letra de uma canção que não quiseste esquecer, uma fotografia que tinhas esquecido, um cabelo roubado, um clip, uma folha amarrotada por uma fúria que já passou.
Quando fechas a gaveta, estás pronto para outra, que nem sabes qual é. Mas isso que interessa? Aumentos o volume doo som do video clip que não te cansas de sentir com os sentidos todos.
Há a memória das coisas feitas. E há a memória das coisas por fazer, uma memória do futuro. Que não te falte a imaginação das coisas feitas e não te falte a imaginação das coisas pque vais fazer.
Eu estou nas tuas encruzilhadas e acrescento memória e imaginação à memória da tua imaginação.
Podes aumentar o volume? Eu gosto da música e da letra - tanto como tu.



nota: das memórias perdidas não completamente. escrevi e recebi de mim o texto batido por mim. tenho a certeza que nunca ouvi esse som de porto
.

onde?

da inspecção pedagógica
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láqis na agenda das notas de alguns dias de 1989 que vamos ler e escrever de novo

à superfície da água só navegam
ideias leves
vestidas de sedas
que nós olhamo-las... distraídos
a olhar.

mas nos olhos as águas são profundas:
na sua superfície espelhada
bate o sol mais brilhante
e é vigiado o olhar mais vigilante

de certo modo olhar é abraçar
o que se está a ver
são as dúvidas que brilham quando trocar
é o que está a acontecer

rasgam-se assim as margens do rio
por onde corremos
de todos os lados olhamos
e nunca é tudo o que vemos

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despudor claro

quero não me levantar ou antes  não levantar os ohos  para ver lá fora   e ainda não tinha olhos que não chorassem comigo   pela seguinte cu...