carnaval
Ao fim de um certo tempo, o homem procura ver pessoas mais palpáveis e procura os lugares de ver para fora da sua casa onde está fechado. Como a janela é pequena e é muito alta, o homem só pode ver um cortejo de carros que passam numa avenida que só tem carros. Uma bicha de carros que passam ininterruptamente, com uma paragem obrigada pelas mudanças de luz do semáforo. O homem sabe que há pessoas em algum sítio, mas a sua vista não as alcança. Desiste destas janelas que são molduras de paisagens longínquas, espantosos quadros ao pôr do sol. Passa a vida a tirar fotografias aproveitando o enquadramento das suas janelas. Acaba por decidir-se e arrasta-se para a varanda onde pode debruçar-se e, com um pouco de sorte, alguém há-de estar a passar para ser visto. À hora em que tudo isto se passa, o homem só pode ver carros dos dois lados da rua. E desiste.
Há sempre a esperança da nesga que faz de janela da cozinha. Já sem esperança, o homem levanta-se e vai para o único lugar que dá para as casas dos vizinhos. E confirma que todos fugiram para onde não são vistos nem achados.
Volta à sala. E, de comando na mão, abre a última janela. Nesta, pode escolher o que quer ver como estando lá, fora de si. Pode escolher o carnaval (e vê-lo prolongado por duas semanas). As primeiras tentativas dão-lhe imagens e notícias do carnaval inaugural no Palácio de Cristal do Porto e de dois corsos em Castelo Branco. Mais uma vez, repete que não é uma janela que faz as pessoas. Sem coragem para mais carnavais e para esquecer as dores nas costas, o homem fecha os olhos que é uma maneira de fechar todas as janelas. E adormece.
[o aveiro; 8/2/2005]
carnaval
depois de um corso inaugural em Palácio de Cristal.
ainda
Comprando livros e discos. Mas antes que o dia tivesse acabado já tinha dado os discos e enviado pelo correio um dos livros. Os outros foram para trás das costas.
Na sexta, perdi-me e fui parar ao médico sem que as costas me tivessem virado as costas.
No sábado, ainda nem sei se tome lugar dentro do comboio ou se hei-de virar-lhe as costas.
a canção do bandido
Ainda não tinha assistido a qualquer debate ao vivo desta campanha. Para suprir essa falha na minha cultura, na segunda feira fui ao Porto assistir a um debate sobre a cultura em geral. Lá estavam representantes dos cinco partidos ou coligações com assento no parlamento para um debate proposto pela Plateia - associação de trabalhadores das artes cénicas - e moderado por uma jornalista do Público.
Pelo que me foi dado ouvir, o documento da Plateia recolhe o apoio de todos os partidos, apesar de levantar problemas, reclamar de injustiças e apontar faltas a quem tem governado e objectivos para quem venha a governar. Gostei de ver um conhecido actor de teatro e da televisão a actuar (e bem) como agitador de ideias, mas devo confessar que os políticos da direita presentes no debate são mesmo muito bons actores. Mostraram-se fabulosos e capazes de se dominarem mesmo quando foram denunciados os vencimentos milionários dos capatazes e comissários do poder nas instituições culturais ou quando foram denunciados os critérios e os loucos juízos emitidos pelos júris dos concursos nas áreas da cultura. Será que alguém mente por razões culturais?
2.
Na semana passada, participei em jornadas nacionais sobre educação ambiental em que se debatia a década das nações unidas da educação para o desenvolvimento sustentável. Não me espantou muito que o governo não se fizesse representar num debate alargado sobre um programa mundial que vai marcar uma década em aspectos tão importantes como a educação, o ambiente e o desenvolvimento sustentável. Não me espantou, mas é triste. Mais triste ainda termos constatado a inexistência de quadros superiores da administração pública que tivessem autonomia para participar nesse debate. Sabemos que o que se vai passar não pode depender em absoluto deste ou daquele governo.
3.
Nas artes cénicas, representações boas. No ambiente, representações em falta. Para compensar, uma revista semanal fez mais um génio português a partir de um meco de estrada e fez um apelo desesperado contra a esquerda e a favor do centrão como se estivesse em perigo o estilo de vida das tias da linha e isso fosse a identidade nacional que é preciso preservar. Agora têm sido apontados a dedo génios portugueses, um por semana, todos nos partidos do poder. Génios da lâmpada? Sabemos que é o nosso mau génio farsante, um fado menor, a canção do bandido, a fruta da época.
[o aveiro; 3/2/2005]
Notas:
Vale a pena ler na revista "Sábado" da semana passada: um espantoso e desesperado editorial, a elevação de Miguel Esteves Cardoso à categoria de génio, o artigo de opinião de MEC sobre a entrevista a F. Louçã.
de costas
Espero que a década possa ser vivida em caminhadas ao ar mais ou menos livre. E eu possa caminhar ao lado como se os visse de uma outra dobra no mesmo tempo, lentamente caminhando entre os sessenta e os setenta.
Por uma maioria de razão
O retrato do negócio do poder é feito pelas afirmações e acusações trocadas entre o PS e o PSD, sobre o modo como cada um deles serve as suas clientelas quando está no governo. Cada um deles espera que os seus simpatizantes pensem que é mentira o que deles dizem ou que achem muito bem na esperança de ver chegar a sua vez. Sobre o outro no poder, sabemos que cada um fala verdade em grande medida. Há qualquer coisa de paradoxal nestas acusações mútuas.
Há quem diga que o actual modelo partidário está esgotado. Mas sabemos que o modelo não está esgotado para os fins das clientelas. A defesa acérrima das maiorias absolutas para os partidos que venham a formar governo é disso o sinal mais óbvio. A seriedade de um partido mede-se pela capacidade de se colocar como parceiro em plataformas negociais sobre processos sociais que as decisões políticas podem melhorar. Um programa de governo que juntasse diferentes forças políticas seria uma nova dimensão e teria extraordinária força, acima dos interesses partidários, pela defesa da sociedade e da protecção e melhoria das condições de vida do povo todo, no seu presente e no seu futuro.
Exigir a maioria absoluta para um partido é a prova de que se quer governar sem contestação, logo para fins menores ou para interesses que não são os da sociedade inteira. Na sociedade portuguesa, as maiorias absolutas significaram sempre o desvio grosseiro para o abuso do poder, para interesses ilegítimos de clientelas partidárias e para a corrupção. Claro que há os que dizem que nada disto é com eles e até fazem reuniões sobre a sua verticalidade nesta questão das clientelas, como se cada um de nós não reconhecesse o imoral das suas nomeações locais.
Um outro aspecto prende-se com palavras como competitividade e produtividade, etc. E falam-nos dos exemplos de países como a Finlândia, dando a entender que lá se pratica a receita que eles nos querem aplicar. Mas não é nada do que eles defendem que lá vinga. Por lá há pouca corrupção, impostos muito elevados, estado com muito peso na segurança e assistência social, e os bens sociais como a saúde, as pensões, a educação e ensino ou o fomento científico são todos produzidos por serviços públicos.
A receita não é a maioria absoluta para a libertinagem dos liberais. Nós precisamos de uma maioria da razão.
[o aveiro; 27/01/2005]
Olho para o retrato
Olho para o retrato do meu pai e tento ver-me na idade de ser só ninguém
Mas não sei o que foi retocado no retrato nem o que é vinco feito a vapor
Por um ferro de soldar as fissuras abertas e cicatrizadas pelo uso da dor
Das viagens feitas em nome do pai para bem dos filhos e abandono da mãe
Vertigem
as sombras
Sentado no último degrau
animo o pé da minha sombra
a elevar-se do chão
até ao primeiro degrau
bush
o anjo da guarda e lobo do rebanho do mal
por um eixo - do inferno ao céu - vertical
inclina o planeta que oscila e se despeja
A memória minada
Uma das pragas simbólicas tinha a ver com campos minados pelas guerrilhas, cujas minas tinham sido localizadas e assinaladas para serem destruídas e, por efeito da calamidade, foram dispersas e ficaram fora de qualquer controle.
Passam os dias e as imagens da tragédia começam a ser substituídas por outras imagens, mesmo que algumas sejam retratos de penteados com franja de nervos de alguns políticos que farejam com o nariz um destino para o país.
É assim que nos habituamos a passear por um mundo minado. Camadas de pó de arroz escondem a falta de arroz para os famintos do mundo. A Organização das Nações Unidas publicou novo relatório sobre a crescente fome no mundo que vem dizer o óbvio: se os governos poderosos tivessem cumprido as promessas a fome não era flagelo. Será que os governos vão cumprir o que prometeram relativamente às vítimas do ?tsunami??
A memória dos povos é também um campo minado.
2. Na semana passada, uma notícia importante ocupou as traseiras da discrição nos jornais e televisões. Finalmente, os Estados Unidos encerraram a busca das armas de destruição no Iraque. O relatório final fecha a questão dizendo que nunca houve armas de destruição maciça do lado do Iraque. Na base de uma mentira, fez-se uma guerra de invasão para transformar o Iraque num imenso campo de treino do terror. E Bush foi reeleito. E devastado que está o Iraque pelas armas, já se discute se é ou não razoável nova guerra, agora contra o Irão.
E os nossos cabos de guerra, Durão Barroso à cabeça, que nos podem dizer sobre a guerra passada? Que guerras anseiam apoiar? Que assassinatos preparam? Pelas armas? Pela fome? Que arma de destruição maciça vão usar? A manipulação da informação na sua génese e formas de propagação é a guerra das guerras transformando a memória dos povos num imenso campo minado.
3. Não esquecer é resistir.
[o aveiro; 20/01/2005]
do pedinte
Nem preciso que me respondas
Basta que não te ofendas e ao ver-me
Não mudes de passeio nem te escondas.
Será pedir demais pedir-te que me ames?
Abre o porta-moedas e tira os dois dedos
De conversa que trazes escrita nas costas
De um bilhete com as dobras dos segredos.
Será pedir demais pedir-te que me ames?
então o que me irritava era
era uma vez um julgamento. ao lado de um carrasco, algumas vítimas tinham sido constituídas em réus. para mim, perante a lei não eram iguais como réus.
desenhei, logo existiu
um pesadelo podia riscar o papel como o avião risca o céu e não mais do que isso.
assalto ao prazer do riso
já não soletram disparates
preferem disparar dislates
pelos dois canos serrados do nariz.
O sistema
O que provoca a pestilência é um mundo de pequenas coisas, qual delas a mais ridícula ou a mais triste e perigosa. Um ministro que diz que não disse o que disse, outro que gasta à tripa forra ao mesmo tempo que debita postas de pescada para emagrecer o estado e matar o estado providência, outro que mostra cicatrizes de facadas enquanto esfaqueia um amigo qualquer, o que freta aviões para aviar um passeio oficioso, o que nos faz pagar um kit para a sua emergência médica, etc. Festival pimba!
Com a dissolução da Assembleia da República, Jorge Sampaio devolveu-nos a ilusão de podermos escolher outros deputados e, por essa via, escolhermos outro governo. Mas mal nos deixa viver a ilusão, porque sempre vai dizendo, entredentes, que é a política do centro que salva o país e que é preciso até arranjar leis eleitorais que facilitem maiorias, sendo que na sua cabeça só pode o governar o país um dos partidos siameses - socialista ou social democrata - que coincidem em muitos detalhes e genericamente em tudo o que de importante se pode dizer para Portugal e para a Europa.
Já os ouvimos dizer como usurpam o estado para os interesses dos grupos e das pessoas que vivem como suas borboletas. E que as pessoas sérias desses partidos aceitam a corrupção como doença da democracia e uma factura a pagar para que o país progrida em liberdade.
Para fora, defendem que não pode haver estado providência para os pobres e desvalidos. Sem quererem admitir que há um estado providência para demolir - o deles mesmos e das gamelas legais onde a legião do centro come o dinheiro que tem de ser tirado da boca dos pobres.
Não admira que Pulido Valente, cronista ex-deputado do PSD, diga que o problema não está na falta de maiorias para governar. O problema está nos partidos que obtêm as maiorias, no que eles são em sua essência. Não tendo feito favor ao PSD, Santana Lopes fez um favor ao centrão. Pode mesmo haver quem vote no PS para derrotar o PSD. Para quê?
[o aveiro; 13/01/2005]
quando passamos por lá
Quando não passamos perto ficamos sem saber como é passarmos lá
Mas falamos dessa passagem apertada e escura com displicência
Para sermos admirados pelos pobres de pedir não há melhor ciência
Do que ser a forma do bolo com as velas apagadas pela experiência
Essa que nunca vivemos por já a termos lido sem sair de cá
Passamos pela morte perdendo tudo: rimas ritmos cadência.
a lã do tempo
Que deitei fora entre a viela e o largo da infância
Num dia em que o sol o rompeu e à manhã
E eu suei as estopinhas atrás da bola das minhas meias
A falta que ele me faz
Nestes dias em que os glaciares deslizam
Sobre a minha cabeça e os pingos do nariz vermelho
Congelam no ar acima do chão dos becos da cidade
A falta que ele me faz
O casaco ... e a ágilidade de quando era rapaz
na soleira
E deixa que a luz grave na palma da minha mão
De ti uma imagem que sejas tu na escuridão
Que não sei se é tua a ausência ou minha a cegueira.
Pingo de vergonha
O currículo da nomeada, também vem na página do Diário da República, desmente vergonhosamente esse parágrafo. Esclarece que a nomeada foi professora de Filosofia e, na falta de melhor, acrescenta em linhas autónomas que esta elaborou e corrigiu provas (membro da elaboração - escreveu ela!), ou que frequentou acções de formação (na área da educação e conhecimento, escreveu ela!). Não é o que fazem os professores? Como cereja no bolo das suas competências para o cargo, diz-se que foi da direcção da MoviJovem. Tropeça até na escrita do seu currículo - insignificante até para professora!
No dia 4 de Janeiro, em artigo do Público, o mandante da nomeação declara que está bem justificada a nomeação pelo que se pode ler no despacho e a nomeada ainda joga ao ataque, achando que foi bem nomeada e que se fosse a levar em conta os currículos ela não teria oportunidade de mostrar o que vale. E que bem que ela mostra o que vale! Já várias vezes falei das duas faces das nomeações destes governos. Criminoso é quem nomeia sem critérios de competência - prejudicando e desacreditando a administração pública. De baixo estofo é quem aceita sabendo que não tem condições para o exercício e que não pode merecer qualquer respeito de subordinados e parceiros.
Este caso não é o único, é só mais um caso público que diz tudo sobre este governo. E sobre outros governos que assim procederam. E diz tudo sobre a nomeada que vai ter no seu currículo uma passagem como Vice-Presidente do Instituto do Consumidor para não parar de subir na vida fácil. O mesmo aconteceu com Ministros, Secretários de Estado, etc.
São formas de vida. Vende-se de tudo: corpo, alma, honra, dignidade. Sem pingo ... de vergonha.
[o aveiro; 6/1/2005]
E fora eu esperar-te
Fora eu esperar-te
Em carne viva numa esquina de ruas
E como uma carícia aérea visses
A ternura do meu desejo ao olhar-te
A vida inteira
Estenderas a mão até quase tocar-me
E não te afastaras mais que dois dedos
Para que a vida pudesse parar nesse instante
Da ansiedade em teu olhar ao desejar-me
A vida inteira
Fora o instante mais que perfeito
Ou imperfeito mas que se recordasse
A vida inteira.
O caso notável de um debate
Mas afinal quem ensina e certifica a imensa maioria dos professores de matemática? Qual é a corrente dominante na formação de professsores de matemática em Portugal? Quem fala mais alto nisto afinal? Se há uma conspiração vencedora, qual é a facção que venceu e não assume a responsabilidade do falhanço?
O que me interessa disto tudo é mesmo a utilização das propriedades das operações e a ilustração geométrica para as igualdades algébricas no básico. A figura ora vale mais que mil palavras ora abafa todas as palavras do futuro.... No ensino da matemática, qual o papel das figuras?
daqui para ali - a geometria
não foi em vão e não se finou vazia a experiência.
passa a ter nome e vida em casa própria:
O paraíso da tragédia
E é então que começamos a prestar atenção a outros dados que vão sendo lançados.
Parece que a ocorrência de maremotos e ?tsunami? é muito mais rara no Índico que no Pacífico. E se os sistemas de aviso do Pacífico para os maremotos, ondas e marés invulgares estivessem montados no Índico? Haveria menos vítimas! - é o que dizem os cientistas, já que passaram horas entre o maremoto e a chegada das ondas às costas da Ásia. Os meios de comunicação existem para comunicar e mostrar a tragédia a todo o mundo em tempo real. Porque não funcionam para os alertas que antecedem e podem evitar parte da tragédia? Parte desta tragédia é a denúncia do drama que o modelo de globalização encerra.
E dizem os cientistas que o modelo de desenvolvimento é responsável pela dimensão da tragédia, já que provocou alterações profundas dos eco-sistemas marinhos e das orlas marítimas do continente asiático. Desde a destruição dos recifes de corais para a cultura intensiva de algumas espécies e a substituição das espécies arbóreas tradicionais das orlas costeiras até à concentração de populações humanas na beira do oceano, dele tradicionalmente afastadas.
Todos estes problemas estão estudados e contra os modelos de desenvolvimento, seguidos na maioria dos países atingidos pela tragédia, os cientistas e as organizações internacionais sempre lançaram alertas.
Estamos agora a assistir à maior operação de ajuda humanitária de sempre e rezando para que a contaminação das águas e as doenças não dupliquem o número de mortos da tragédia. Afogados no combate à tragédia, esquecemos a lição da verdade sobre os negócios do paraíso ... e as vantagens dos modelos de salvação. Que 2005 seja um ano de boa memória!
[o aveiro; 30/12/2004]
a cor falhada
Correu mal - confesso!, mas como prenda de natal bem intencionada foi o melhor que consegui nesta nesga de tempo em que sobrevive o espírito natalício.
Problema com sete lados
[Sugestão da lista de problemas das Olimpíadas Brasileiras de Matemática: O Teorema de Ptolomeu pode ajudar]
Ptolomeu
AB.CD+BC.AD=AC.BD
Nós ilustramos isso bem numa construção dinâmica - sobre o teorema de ptolomeu -, que pode manipular em parte, se isso o puder ajudar a acreditar na veracidade da afirmação que fizemos acima.
É claro que o melhor que pode fazer é demonstrar o teorema. É mesmo necessário que o quadrilátero seja inscritível numa circunferência?
Talvez valha a pena olhar o célebre Teorema de Pitágoras como um caso particular deste.
Estamos a fazer experiências n'O Lado Esquerdo a pensar numa outra coisa sobre problemas de matemática - geometria, em particular.
a esperança
e morre ali refeita suspiro ao chegar
à praia onde como quem mói o pensamento
piso meticulosamente cada bolha de ar.
o prazer
arsélio & aurélio
boas festas
Quem algum dia já administrou alguma bagatela do estado sabe como é difícil (senão impossível) desfazer-se do que quer que seja ainda que seja o inútil, o estragado, o podre, o lixo. Compreende-se que assim seja em geral já que se trata da decisão de uma pessoa (ou um grupo de pessoas), num dado momento, de alienar um património de todos, adquirido e mantido por grandes épocas e gerações . Por isso, é espantoso o espectáculo anual da alienação do património geral do estado, muitas vezes de imóveis carregados de séculos, por uns maduros que assumem o poder por uns anos, quando não por uns meses. Começo a pensar que estes políticos levaram isto a votos e que a maioria do povo português lhes deu autorização para venderem o património comum da nação por altura das festas. Estou a ficar um bocado lélé da cuca e custa-me a acreditar que isto seja feito sem ir a votos. Aliás, eles têm concorrido a governantes do estado na base da necessidade de acabar com ele. São mais comissões liquidatárias do que governos.
O outro lado do meu espanto está na realização do próprio negócio. Toda a gente anda a dizer que isto vai mal, que ninguém quer investir, que a terra deixou de girar no seu eixo capital, etc. Ora, estes negócios do património são da ordem dos milhões de milhões, aparecem na altura das festas e das crises e realizam-se sempre. Porque é que para isto há investidores sempre prontos e atentos à oportunidade de negócio que não fazem ou não escolhem outros negócios? Só pode estar combinado há muito tempo. E só pode ser feito com garantias de retorno gigantesco a curto prazo. Eles são tão ferozes contra o estado que não dão para peditórios a favor do estado. Quem combina isto em condições de ser realizado o negócio - por acerto directo?
Finalmente, a terceira face do espanto. Por vezes, com foi agora o caso, os mandantes chegam a vender sem concurso e sem hasta pública os imóveis que estão a ser usados pelos serviços do estado e imprescindíveis institutos públicos. Ainda antes de receber o dinheiro da venda, já estão a pagar rendas milionárias aos investidores. Quem votou nesta política ainda acha que ela é política séria!
A Comunidade Europeia veio dizer que não é séria esta política, como se nos mandasse um cartão de boas festas. Aproveitemos a lucidez dos estranhos.
[o aveiro; 23/12/2004]
laranjeira
Não parece uma laranja grande e verde.
Parece uma abóbora pendendo da laranjeira.
E é o que parece.
torturada
tanto as amo vestidas de frondosas copas
pelo estio
como as choro assim nuas torturadas
às mãos do frio
Levanta-te e dança!
Se te levantares saberás o que é andar sem ajuda
e isso, tão pouco!, é a liberdade que em ti tudo muda.
[¿Sabia ele o que lhe diria hoje se o visse?]
E, tendo construido em verga forte duas bengalas
até à altura dos meus sovacos de criança,
levantou-me do cesto onde jazia para dizer: "Abram alas!
que é tempo do arsélio vir mostrar como se dança".
Coral
Tudo flutua ausente e dividido,
Tudo flutua sem nome e sem ruído.
[Sophia]
GEOMETRIA : A curva do ingénuo revisitado (geogebra)
GEOMETRIA : A curva do ingénuo revisitado (geogebra) : Revisitamos "31 de Janeiro de 2005" de entrada ligada a texto de setembro ...
-
Nenhum de nós sabe quanto custa um abraço. Com gosto, pagamos todos os abraços solidários sem contarmos os tostões. Não regateamos o preço d...
-
eu bem me disse que estava a ser parvo por pensar que só com os meus dentes chegavam para morder até o futuro e n...