da oficinas, a vida
a roda dos expostos
o pintor daltónico
o poeta escrerve o cèu
o pintor náo foi cuidadoso
nunca expôs a vida
depois de empurrar para dentro
no museu eles gurdam antigas
a marca dos expostos
a marca da água
uma arvore està plantada
porque te hei de mentir
homens devoraram
a oficina de artes
se ensinas uma teoria
podes ver que ods aprendizes
os aprendizes nada te exigem
eles sâo asprendizes e sabem
a arte de voar
as fronteiras
filtro os sons da àgua
nos ombros da mulher de pedra
como dersenhar as fronteiras
o poeta escreve o céu sem uma gota de terra. o pintor mistura, com muitos cuidados, as colas, os vernizes, os axix, ass folhas, as raízes e a terra. despeja a sua mistura numa tela. e, com os seius dfedos sujos e os pincéus dos seus cabelos, espera um mpomento de céu até que exausto adormece sobre a tela. o céu torna-se então no eterno instante em que o pintor descansda coberto de terra, raízes, folhas, azuis vernizes, colas cuidados
a arte de voar aos sonhadores
o céu
sem uma gota
de terra.
o pintor mistura, com muitos cuidados,
as colas, os vernizes, os axis,
as folhas, as raizes e a terra.
despeja a sua mistura numa tela.
e, com os seus dedos sujos e os pincéis dos seus cabelos,
espera um mpomento do céu até que,
exausto,
adormece sobre a tela.
o céu torna-se o eterno instante
em que o pintor descansa
coberto de terra,
raízes, folhas,
azuis,vernizes, colas,
cuidados.
a seguir
é o que diz a mulher que vai
não sabe para onde
desejando o companheiro
de viagem mais do que a viagem
para nenhum lugar
que é o seu lugar.
experimental envio de coisas escritas por Arsélio que foram ditas e perdidas em radio, jornal, etc esperando que me digam se quiserem...... obrigado só eu
Só me lembro de ter trepado para a encosta da bicicleta e, com um impulso vigoroso do pé no pedal, arrancar dali para o lameiro, seguido pelo aplauso das poeiras estremunhadas.
Ainda hoje me pergunto o que terá acontecido. Mas esqueci-me de todas as chaves que abrem a porta da aldeia.
Vejo nitidamente os olhos criminosos que brilham na escuridão e nem em sonhos quero saber de quem são, raiados de golfadas de sangue. Há mortos frescos a dormir na minha infância. Talvez antigos animais domésticos.
Na casa do ferreiro o pátio é um poço fundo e escuro, as paredes negras de carvão.
A luz é ateada pelo vento. Dirás que é réstea solar um resto da labareda da fogueira avivada pelo fole ofegante na tentativa vã de moldar e soldar a asa de cobre nas costas do santo, de costas em seu nicho de glória. Polida até dar luz; a asa de cobre cega o santo e a senha e abre uma nesga.
Uma filha asmática busca ali o consolo de ver o ar suspenso em suas gotículas de luz.
Mais que todas, a família do ferreiro adora os seus animais domésticos. Como noutras casas, também a prole do ferreiro cata pulgas e piolhos, limpa e escova. Acaricia mansamente os animais tão docemente como os mata para a festa canibal. Matam a fome das crianças sem memória com a carne dos amigos.
Em casa do ferreiro, as bestas são mais úteis e, por isso, mais amadas. Nelas, o ferreiro experimenta a eficácia das ferramentas: Aguilhões supliciais que sangram nos costados domésticos como bandarilhas na arena da casa. Aquelas facas curvas de poda que desbastam os cascos até que cada pegada na estrumeira se encha de sangue.
Cheio de medo e repugnância, vejo a gratidão animalesca nos olhos postos na manjedoura que cheira a milho verde e a sal grosso.
Não tínhamos ensinado o horror e ter piedade e compaixão é coisa que não se ensina. Bastará compreender, com medo, o pavor que vai nos olhos da besta?
Uivando e batendo pés em roda a família cega lapida em vida um céu de pó. Muito tempo passado e no chão sangrado ainda sobra um lombo de sangue seco. Entretanto, os bravos guerreiros voltaram a zurzir os tambores de cobre martelado.
Esse é o engenho do ferreiro. O meu engenho é outro, criou raízes em pés da criança nómada que deslizam no rodado de poeira finíssima, dentro da tempestade de areia dos cascos que dançam.
Os meus braços esticados, cintilantes de suor, acrescentam-me como cauda à vaca cega.
Os cômoros rasgam-se para que a poeira venha encaminhada pelas estreitas regueiras caudalosas.
Ela rasgou a blusa para mostrar as marcas e ele a reconhecer longínqua.
O meu avô não era daquele lugar. Pelo menos, tornara-se um espantalho pregado num caminho pedregoso, os olhos vazados virados às armas silvestres.
Com um ramo de louro, batemos a tona do sangue, o sal, o vinagre e o cobre. O estertor ainda se sente e já o sangue vai a cozer. Um alguidar fica como que abandonado por ali a receber os pingos da morte.
O ataque de coração que temias demais, acontece como acontece um toque a rebate, a finados. Vem lembrar-nos, no bronze do alto sino, quem fomos no nosso tempo, os homem que viram as suas máquinas bombeando veneno em seu movimento sem-fim, perpétuo, sístole-diástole-sístole,..., fim.
Dizem-te que até o fim é efémero.
São as unhas que cavam fronteiras entre as peças como se sentissem linhas de soldadura, prontas a ceder à carícia de uma mão assassina.
A feminina lascívia vai solta em seu passeio pela carne.
Na casa da eira sofrias as ausências entre os sacos, enquanto ouvias moer o milho e a verdade até ser farinha.
O ciúme era um fio de ferro ao rubro dentro da tua cabeça, de uma orelha à outra.
Voa ainda hoje pelos capilares do corpo, subindo até à alma, o ciúme. E é por isso que finges não ter alma essa e assim sofrer menos.
Pelo menos é isso que mostras. É isso que parece. É assim que parece. Que apareces.
No lagoaceiro e guia a água até se sumir no leve areal onde o milho não sobrevive e a abóbora raquítica e bêbeda da tua água boleca te serve de desculpa para veres as pernas das cachopas passando, com seus carregos de feijão arrancado pelo pé.
Mal se endireitam as cachopas na voz e é para murmurar coitado do rapaz! Tão mordido pelas leituras que nem sabe que fazer do entrepernas!
Que raiva! Quando a filha do ferreiro desinfectava a agulha da seringa no álcool ardente e te distraíam até que, em teu delírio, perdesses a vergonha antes que te perdesses na dor.
Na ideia absurda, mas verdadeira, que atazanava os teus cornos de aço, a razão era a tua. A tua razão não tinha que ser razão para toda a gente.
Uma guitarra e piões em madeira. Bustos de mulher em pedra de ançã de antigas lápides do cemitério,
Melhor me lembro como a minha avó as desfez a golpes certeiros do machado afiado para o outono da lenha do inverno e de todo o ano.
Antes fosse bêbedo meu avô sem arte, sem literatura e sem mistério. Assim ninguém o via quando ele vagueava no seu modo translúcido de uma garrafa para outra de aniz escarchado depois de já ter bebido toda a genebra que havia na aldeia, todo gin e todo o whisky.
Por via dele tinham entrado no comércio local. Por via da minha avó tinham saído, que as proibia à medida que se esgotavam os stocks.
Antes assim que peso morto em contentor de chumbo! — dizias tu para quem te queria ouvir. Não sei se acreditavas nisso que dizias. Eu acreditava.
Como vais?, que é feito de ti?
Que resposta tenho para este passado?
o outro, aquele que não está no espectáculo. Olham para ele e não o vêem, as palavras que ele disse eram água pelos dedos abertos.
Amanhã, à luz do dia, não haverá lembrança deste gesto insensato e todos viverão, como antes, em nome do futuro!
a memória de elefante
a memória de elefante
Amei-te desmedidamente. O filho que gerámos tem os olhos vesgos, orelhas de elefante e uma tromba potente, sensível e fina de urso formigueiro. Mas é o nosso filho.
E passámos a vida a olhar embevecidos para o nosso filho, fruto do nosso amor. Quando escurecia, o nosso filho abria os olhos e iluminava dois cantos do quarto em que nos escondíamos do mundo. Ceávamos à meia luz que os seus olhos acendiam cheios de ternura. Quando nos deitávamos, ele fechava os olhos, embalava-nos empurrando o berço com a sua potente tromba e, nas noites de calor, refrescava-nos com o movimento calmo das orelhas. Quando adormecíamos, ele comia os insectos que ousavam incomodar-nos.
Somos felizes. Mais felizes somos porque te amei desmedidamente várias vezes e temos agora um rancho de filhos que olhamos embevecidos, porque têm os olhos vesgos e muito brilhantes, orelhas de elefantes e trombas potentes, sensíveis e finas de ursos formigueiros. Quando nos mudámos para esta rua, ela era habitada. Pouco depois de nós chegarmos, os vizinhos começaram a ir-se embora. A última a partir foi uma velhota muito pobre de quem nos despedimos com simpatia.
Não percebemos porque é que ela nos perguntou se não tínhamos espelhos.
1995' Pintor João Pires
Versados passados
cuspidas como uma corrente de ar gelado como o corpo da tua voz. és a tua história: aquela que ouvimos soltar-se da tua boca e vemos palavra a palavra pendurada no arame esticado de um estendal de rua ou sobre o abismo a cabeça a caminho da lua versados
rimas (muito cedo muito antes deste regresso )
onde a fonte murmura
foi que perdeste a infância:
e o frio dessa distância
é que te rodeia a cintura
perdidamente
e mesmo assim te amei perdidamente:
a minha inocência mais pura
correu célere para uma foz de amargura
enquanto tu desaguavas em mar diferente
aldeia vegetal
se voltares à minha aldeia vegetal:
um funâmbulo persegue por um fio de cor
teu gesto sem asas, mas voador
papagaio de tela, de pele e de cal
devolução
as folhas de choupo, não foi do alto que as colheste:
o que trincas são asas das minhas aves mortas
que se esmagaram contra os umbrais das tuas portas
na violência do vento que te devolve o que não deste
@ adealmeida
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Nenhum de nós sabe quanto custa um abraço. Com gosto, pagamos todos os abraços solidários sem contarmos os tostões. Não regateamos o preço d...
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eu bem me disse que estava a ser parvo por pensar que só com os meus dentes chegavam para morder até o futuro e n...