Os muros, as muralhas.

De O Púiblico de 27 de Novembro, não resistimos a recomendar a leitura de Siza em Lisboa de Miguel Sousa Tavares. Já antes tínhamos respigado um outro artigo de MST que referia o assunto.

O Aveirense também mostra a cara lavada.




Nem imaginam como é reconfortante sabermos que está ali, aberto para nos receber. Ainda não podemos saber o que vai ser. Mas já lá assisti a dois concertos. Num primeiro, apareceu-me Beethoven pouco vibrante (como se tivesse sido abafado) numa das últimas filas da plateia. Mas numa das primeiras filas, já senti toda a vibração da banda (BigBand) de GianLuigi Trovesi nas discussões entre trompetes, saxofones, trombones, … É um conforto saber que está ali, aberto.

A capitania é agora outra. Assim:



Sem tapumes nem andaimes, a antiga capitania aparece lavada e segura sobre as águas. Por trás dela, pode ver-se o pagode chinês que tentou afundá-la. Aproveitando os andaimes e a falta de vigilância ou segurança, uma criança carente e exibicionista subiu ao telhado para despejar uma assinatura como se vomitasse para chamar a atenção.

O problema palestiniano entre 1903 e 1948

António Aurélio Fernandes coligiu uma colecção de notícias a partir da obra
"Chronique du XXe. Siècle – Editions Chroniques". Vale a pena ler, agarrado ao fio do tempo.

1903/08/23 (pag.51)
O sexto congresso sionista e o Estado judaico
Teve início em Basileia ( Suíça) o sexto congresso sionista. O movimento sionista está dividido. Os "territorialistas" , com o escritor Zangwill à cabeça, consideram que, se não é possível a Palestina voltar a ser judaica, seria então necessário criar um Estado judeu num território deserto; a sua palavra de ordem é: "Uma terra sem povo para um povo sem terra". Max Nordau e Theodor Herzl continuam, porém, a defender a ideia de um Estado judeu na Palestina; as teses contidas em "O Estado judeu", de Herzl, obra publicada em 1896, constituem o seu programa.
"L' Alyah", a subida para Israel, começa: colónias judaicas foram fundadas; desde 1880, mais de 25000 judeus chegaram, elevando assim para 70000 o número de judeus vivendo na Terra Santa.

1904/07/03 (pag. 60)
Morreu Theodor Herzl
Theodor Herzl morreu em Edlach, na Áustria. Nascido em 1860, em Budapeste, começou por ser jornalista no "Die Neue Freie Presse" de Viena. Ferido pela raiva anti-semita da populaça quando do envio de Dreyfus para o degredo, Herzl considera absolutamente necessário o estabelecimento de um "abrigo permanente para o povo judaico", tese que ele expõem , em 1896, no seu livro "O Estado Judeu". Em 1897, Herzl confidenciava ao seu jornal: "Se eu quisesse resumir o Congresso sionista de Basileia a uma frase – que eu me resguardo de enunciar publicamente – diria: em Basileia, em 29 de Agosto de 1897, eu fundei o Estado judeu. Se o dissesse em voz alta, ouviria uma gargalhada geral. Mas em 5 anos, em 50 anos, estou seguro que todo o mundo concordará". Ele conseguiu entretanto expandir o movimento sionista.

1909/12/26 a 31 (pag. 120)
Congresso sionista em Hamburgo
Decorrem em Hamburgo o IX Congresso sionista. A assembleia , com 600 participantes, reafirma a sua fidelidade ao programa de Basileia, ou seja, a reivindicação de territórios jurídica e oficialmente garantidos aos judeus. Os membros do Congresso consideram como particularmente problemática e lamentável a interdição de imigração para a Palestina.

1910/09/11 (pag. 131)
100 000 marcos para a próxima colónia sionista
A colonização da Palestina é o tema central do XII congresso dos sionistas alemães. Existem já 32 colónias judaicas na Palestina. 56000 judeus fixaram-se em Jerusalém, 8600 na Tiberíade,. Os sionistas alemães põem a quantia de 100000 marcos à disposição da próxima cooperativa sionista que se estabeleça na Palestina.

1929/08/24 (pag. 400)
Confrontos em Jerusalém entre judeus e árabes
Desde há alguns dias, Jerusalém tem sido teatro de violentos confrontos entre Judeus e Árabes. Cerca de quinhentas pessoas terão sido mortas. A lei marcial foi proclamada na cidade e o alto-comissário solicitou do governo britânico o envio de dois vasos de guerra. Nos Estados Unidos, os círculos judeus pressionam o governo para que intervenham a favor das minorias judaicas da Palestina. É pouco provável a intervenção da Sociedade das Nações.

1930/11/17 (pag. 417)
Londres: debate sobre a Palestina
Paralelamente ao problema indiano, a questão da Palestina voltou este mês à ordem do dia na Grã-Bretanha. Abriu-se um debate nos Comuns a propósito do modo como o governo exerce o seu mandato sobre a Palestina. O primeiro ministro, James Ramsay MacDonald, apresentou um plano que prevê a reinstalação de 10000 famílias árabes que ficaram sem terras após as compras massiças efectuadas pelos colonos judeus. O plano prevê futuramente uma colonização da Palestina que equilibre as implantações judaicas e árabes.
Recordemos que em 1917, a declaração Balfour tinha previsto uma partilha equitativa entre Judeus e Árabes do território sob mandato inglês.

1933/10/28 (pag. 460)
Palestina: revolta dos árabes contra a quota de imigração dos judeus, considerado muito elevado.

1936/06/19 (pag. 495)
Perturbações na Palestina: judeus e árabes confrontam-se
O ministro britânico da colónias acaba de fazer uma comunicação aos Comuns a propósito da situação na Palestina, próxima de uma verdadeira guerra civil. Desde o início do ano, graves afrontamentos se verificam nas zonas sob mandato francês ou britânico da península árabe, provocados pelo afluxo cada vez mais intenso de colonos judeus, na maioria fugindo da Alemanha nazi. Só em 1935, 59000 chegaram à Palestina, facto que os árabes consideram ameaça aos seus interesses vitais. Desde o início do ano que eles se opõem pela força à chegada de novos imigrantes.

1938/07/06 a 12 (pag. 530)
Série de atentados sangrentos na Palestina
A Palestina, província retirada aos turcos em 1918 e confiada aos ingleses quatro anos mais tarde, foi teatro de afrontamentos entre dois nacionalismos entre os quais não parece haver qualquer hipótese de entendimento. Apesar das severas medidas de manutenção da ordem, tomadas pelo governo britânico, os incidentes multiplicam-se em toda a região. […]

1945/10/31 (pag. 676)
Os Árabes opõem-se a um "Estado judeu"
Cresce a tensão entre as comunidades judaica e árabe. A Liga Árabe levanta-se vivamente contra o prosseguimento da imigração judaica. Egipto, Síria, Líbano e Iraque advertem os EU pelas consequências nefastas para as relações internacionais que iria provocar o nascimento de Israel na Palestina, se os americanos persistem na sua criação. Todo este tempo, as actividades do movimento nacionalista judaico desenvolve-se no sentido de forçar os britânicos a deixar o pais.

1945/12/27 (pag. 679)
Vaga de terror na Palestina
Prossegue a vaga de atentados terroristas contra as instalações militares britânicas na Palestina: explodiram bombas em Jerusalém, em Tel Aviv e Haifa, fazendo dez vítimas. Uma vaga de prisões desencadeada pelo exército e policia britânicos leva à prisão 2000 judeus entre os 16 e os 40 anos. Três organizações são suspeitas quanto à origem dos atentados: 1 – A Hagana, exército secreto judeu, especialista na imigração clandestina; 2 – A organização militar Irgoun Zwai Leumi, dirigida por Menahem Begin; 3 – Os grupos nacionalistas "Stern", assim chamados após a morte do seu chefe, Abraham Stern (morto pela policia em 1942). O seu fim comum é a criação de um Estado judeu na Palestina, destinado a acolher os judeus europeus que sobreviveram aos massacres nazis. Os Britânicos, porém, consideram que é necessário ter em conta os interesses árabes.

1946/01/13 (pag. 682)
O governo britânico fixa a quota mensal de imigração judaica na Palestina em 10500 pessoas.

1946/02/26 (pag. 683)
Atentado no Monte Carmelo
Acabam de verificar-se atentados na Palestina contra uma estação de radar britânica no Monte Carmelo e os comissariados principais de Tel Asviv e Haifa. Quatro judeus mortos em Tel Aviv, quando do atentado, foram inumados perante uma multidão de 5000 pessoas. Após novos atentados contra aeródromos britânicos com a destruição de 22 aviões, foram presos 5000 judeus.

1946/08/12 (690)
A Grã- Bretanha ordena a suspensão da imigração judaica para a Palestina e encarcera em Chipre aqueles que a favorecem.

1946/10/04 (691)
O presidente americano Harry Truman pede ao primeiro ministro britânico Clement Attlee que autorize de novo a imigração judaica para a Palestina.

1947/02/06 (698)
O alto-comissário árabe declara na ONU a sua recusa absoluta relativamente à resolução que cria o Estado de Israel.

1947/03/01 (pag. 699)
Lei marcial em Jerusalém
Sucedem-se os confrontos na Palestina. Doze pessoas perderam a vida num atentado na messe dos oficiais britânicos em Jerusalém; vários outros ataques foram perpetrados contra as instalações e as unidades britânicas em Tel Aviv, para desviar a atenção da chegada de um navio clandestino carregado de imigrantes.
A proclamação do estado de sitio e as limitações impostas pelos britânicos à liberdade de circulação aumenta o desemprego e provoca uma animosidade crescente da população judaica.

1947/04/28 (pag. 699)
Nova Iorque: primeira assembleia extraordinária da ONU; a Palestina está na ordem do dia.

1947/05/18 (pag. 700)
Golpe de força do Irgoun na Palestina
A proposta que acaba de ser apresentada às Nações Unidas pela Liga Árabe, pede a retirada das tropas britânicas da Palestina, assim como a criação de um Estado palestiniano; não foi dado voto favorável pela organização. As Nações Unidas vão criar uma comissão cujo fim é fazer um inquérito sobre os acontecimentos na Palestina. As organizações secretas judaicas declararam que aceitavam suspender os seus atentados durante o inquérito, na condição que os britânicos empreendam nada pela sua parte.
No início do mês, um ataque à prisão de Saint-Jean-d'Acre permitiu à Irgoun Zwai Leumi libertar 189 dos seus compatriotas judeus aprisionados. Esta evasão espectacular foi possível após o Irgoun ter feito explodir um muro da prisão.

1947/07/18 (pag. 701)
A longa errância do "Êxodus"
Há oito dias, o navio "Presidente Warfield" tinha deixado o porto de Sete com 4530 judeus a bordo, refugiados da Alemanha. O barco dirigia-se à Palestina. Antes de chegar a Haifa, foi rebaptizado como "Exodus", em homenagem à marcha de Moisés e do seu povo para a terra prometida. No dia seguinte, as autoridades britânicas do porto de Haifa recusaram o desembarque dos passageiros. Reconduzido a Marselha sob escolta britânica, o barco chegou hoje; desta vez foram os judeus que recusaram o desembarque.. As autoridades inglesas mostram-se inflexíveis, alegando a qualidade de imigrantes clandestinos dos passageiros. De facto, trata-se de "pessoas deslocadas" da Europa central e oriental. Considera-se que devem ser reenviadas para a Alemanha. A situação provoca uma grande emoção em todo o mundo.
Defende-se que os judeus, já martirizados durante a guerra, merecem encontrar uma pátria. A única solução aceitável parece ser a constituição de um Estado judeu independente na Palestina. Mas o clima na Palestina degradou-se consideravelmente depois do atentado ao Hotel Rei David que custou a vida a 110 britânicos do quartel general; eles tinham recusado ser evacuados, apesar de um alerta telefónico. A opinião pública inglesa teme as agressões do exército secreto judeu Irgoun.

1947/08/22 (pag. 702)
Os passageiros do "Exodus" que recusaram desembarcar em França, foram conduzidos para Hamburgo onde terão de sair, a bem ou a mal.

1947/09/07 (pag. 703)
Os refugiados do "Exodus" desembarcaram à força em Hamburgo.

1947/09/20 (pag.703)
Início dos ataques sistemáticos da população árabe contra a população judaica.

1947/11 (pag. 704)
10. Os Estados Unidos dão o seu acordo ao fim do mandato britânico na Palestina em 31 de Maio de 1948.
16. As primeiras tropas britânicas abandonam a Palestina.
29. A ONU decide a partilha da Palestina em dois Estados, um árabe, outro judeu, reservando para si a administração de Jerusalém.
30. Síria: grande manifestação em Damasco contra Israel, a França e os Estados Unidos.

1948/04 (pag. 710)
09. Palestina: massacre dos habitantes da aldeia árabe de Deir Yassin.
22. As tropas judaicas tomam Haifa. A França pede urgência na tutela da ONU para proteger os Lugares santos.
26. Aman. a conferência dos chefes de estado árabes decide intensificar os atentados anti-sionistas.
28. A Legião árabe, apoiada pelos britânicos, toma Jericó.

1948/05/14 (pag. 711)
Nascimento do Estado de Israel
À meia-noite termina o mandato sobre a Palestina que a Sociedade das Nações havia confiado à Grã-Bretanha em 29 de Setembro de 1923. As tropas britânicas deverão ter evacuado totalmente o país até 1 de Agosto, no máximo. Em 15 de Maio, Sábado, o Conselho nacional judaico e o Congresso mundial sionista deram a conhecer, com um dia de avanço, a notícia da fundação do Estado de Israel.
O antigo Estado de Israel tinha desaparecido no ano 70, quando da destruição de Jerusalém pelas tropas romanas do imperador Tito; os judeus dispersaram-se por todo o mundo. O sionismo, nascido das perseguições aos judeus na Europa de Leste no fim do século XIX e no início do século XX, reivindica, por razões politicas e religiosas, o regresso dos judeus para a Palestina, lugar de refúgio e pátria. Esta reivindicação dos sionistas encontra um largo apoio na sequência dos crimes perpetrados pelos fascistas contra os judeus nos anos 30 e durante a segunda guerra mundial.
As comunidades judaica e árabe na Palestina afrontaram-se de modo sangrento no final do mandato britânico. Em 13 de Maio, a Liga árabe declarou guerra aos judeus da Palestina e atacou os seus locais de implantação. A Legião árabe da Transjordânia cerca a guarnição israelita de Jerusalém e força-a a render-se. O presidente do novo Estado de Israel, o químico Chaim Weizmann e o chefe do movimento sionista, David Ben Gourion, presidente do Conselho, anunciam que a Hagana, exército secreto judeu, será doravante o exército oficial do Estado de Israel. Os seus efectivos serão reforçados por imigrantes judeus, provenientes sobretudo dos campos de internamento de Chipre e da Europa; o exército israelita é composto por 85000 homens.
Cerca de 100000 árabes fogem, em Maio, das zonas sob controle israelita. Enquanto Haifa e Acre estão em mãos israelitas, travam-se duros combates na estrada para Jerusalém.
Apesar das suas divergências em vários pontos, os EUA e a URSS entendem-se para favorecer um cessar fogo na Palestina; os britânicos decidem apoiar os Árabes, até que, em 24/02/1949, a ONU declara ilegais as suas acções. (…)

1948/12 (pag. 722)
Reinício dos combates no Néguev
As negociações para o armistício entre Israel e os países árabes que deveriam iniciar-se na ilha de Rodes no princípio do próximo ano, estão a ser preparadas quer diplomaticamente, na ONU, quer militarmente no terreno. (…)
No fim do mês, o exército israelita tenta apoderar-se da margem costeira de Gaza, no sul, alcançando el-Arish, a meio caminho das suas fronteiras oficiais e do delta do Nilo. As advertências do Departamento de Estado americano e as ameaças britânicas obrigaram-no a retroceder. Pelo contrario, o Néguev meridional (…) é tenazmente mantido após uma operação com o significativo nome de "Facto consumado". Os israelitas garantem assim um acesso ao mar Vermelho; apoderaram-se assim de mil e trezentos quilómetros quadrados e de cento e doze aldeias inicialmente atribuídos à Palestina árabe, à custa de nove mil mortos e feridos.

A compaixão dos ricos.

A semana passada foi marcada pelo conhecimento público da derrapagem das contas da coisa pública. Ao contrario do que foi anunciado aos quatro ventos pelo governo, as politicas restritivas seguidas não garantem o controle do défice abaixo do tecto dos 3%. De facto, entusiasmados com a vitória contra o povo, os atletas da selecção da maioria mandaram ao ar os seus dirigentes e rompem o tecto, por este ser baixo demais e falso. Os tectos não podem ser obstáculo à ascensão dos patrióticos dirigentes. Onde é que eu já ouvi isto?

Resistindo a todas as cautelas, e recusando mesmo os caldos de galinha, o ministro Ferreira Leite mantém, nas palavras, a fasquia nos inultrapassáveis 3%. Bem podemos tentar imaginar o que pensa vender o governo nestes próximos 2 meses! Vender a um banco (detido por um “nobre” árabe) as dívidas ao fisco ou similares é prova de imaginação fabulosa.
Damos por nós a inventariar o património do estado, real e imaginário, que vai ser trocado por miúdos – por seis mil milhões de euros miúdos. E começamos a esconder os casacos menos coçados e até a temer que nos vendam o dia de amanhã, enquanto estivermos a dormir a noite de hoje.

A situação ainda não tinha chegado ao seu melhor. Finalmente, Durão Barroso anuncia que “Portugal compreende os problemas sentidos pela Alemanha e pela França, razão pela qual votou a favor da proposta da maioria dos ministros das Finanças da Zona Euro que iliba os dois países de serem penalizados pela Comissão Europeia por défices excessivos”. Li exactamente isto neste abençoado início de semana.

Não é o máximo? Já há muito tempo que não me sentia tão vaidoso de ser português. E há ainda quem ache que o ministro da informação de Saddam é que é bom! Já era! Em termos de paródia e contra-informação, é impossível competir connosco!



[o aveiro; 27/11/2003]

14-4=10

1. A insegurança no Iraque está a fazer vacilar os norte-americanos e alguns dos seus aliados. O governo filipino está a acompanhar a situação, abandonando as intenções de reforçar a sua presença e ponderando mesmo a possibilidade de fazer regressar a lugar seguro (onde é que isso é) os efectivos filipinos que se encontram no Iraque. Face aos últimos acontecimentos, o governo japonês cancelou o envio das suas tropas para o Iraque. São governos fracos a ceder perante o terrorismo internacional.
Felizmente que o governo português se mantém firme como governo de uma grande potencia aliada dos Estados Unidos e da Inglaterra e, cedo envia a GNR para mais tarde. A “grande partida” da GNR é grande notícia. Tal é o entusiasmo, que o governo oferece viagens a 14 ou 15 jornalistas acompanhantes da missão da GNR. Mal tentam entrar no Iraque atrás uns dos outros, os jornalistas e os seus bonitos carros tornam-se vítimas dos bandidos seguros por uma coligação de salvadores (acrescentada da indomável boa vontade de Durão). Uma jornalista é mesmo baleada e outro é raptado. Durante alguns dias, as reportagens incidem sobre as peripécias (que acabam menos mal) dos acompanhantes da GNR. Até chegar à cidade que a GNR vai patrulhar, os jornalistas dão-nos conta que não podem colher informações, agora tolhidos por razões de segurança. A ementa do jantar das tropas é notícia
A seguir ao macarrão, ficamos a saber que o governo e a GNR só garantem a segurança de 4 jornalistas. Figueiredo Lopes, nosso inefável ministro da administração, neste caso, externa, acompanhado pelo comando da GNR, garante que a estes jornalistas só prometeu a nocturna viagem ao Koweit. para que eles reportassem sobre o aéreo perfume do ânimo. No Iraque, os jornalistas que acompanham são instalados pelos italianos no hotel da cidade, antes de serem informados do abandono a que o governo vai votar 10 deles. O engano é a nova notícia?

2. De vez em quando a Matemática é notícia como escândalo de negativas. Estou em Santarém, a participar num encontro nacional da Associação de Professores de Matemática (ProfMat) em que mais de mil professores e investigadores procuram formas de melhorar o ensino da Matemática. Não é um escândalo de positivas? Será que vai ter cobertura informativa?



O que é notícia? 10 é a indiferença? 4 é a diferença? 14-10=4? Matemática?


[o aveiro; 20/11/2003]

Um dia em Santa Maria

Não se pode resistir a transcrever um artigo publicado n'O Público de hoje. António Aurélio Fernandes aconselhou-mo. E eu faço-o, com a devida vénia, na urgência da denúncia e em protesto (de solidariedade).

Um Dia em Santa Maria
Por JOSÉ VÍTOR MALHEIROS
Terça-feira, 11 de Novembro de 2003



São 11h45 quando entro na Urgência do Hospital de Santa Maria, a acompanhar um familiar que sofreu uma queda. Mandam-nos para uma sala de espera e dizem-me que temos de esperar que nos chamem para ir à triagem. Um quadro branco afixado na parede tem escrito em cima "Tempo de espera". Na coluna da esquerda tem escritos os códigos que representam a gravidade de cada doente ou acidentado: "Vermelho", "Laranja", "Amarelo", "Verde", "Azul". À frente de cada cor, na coluna seguinte, está assinalado o tempo médio de espera. À frente de "Verde" está escrito "35 minutos", todas as outras cores têm um traço à frente. Pergunto o que significa o traço. Quer dizer que não há tempo de espera? Que não se sabe? Dizem-me que quer dizer que não há qualquer espera. Mas a sala de espera está cheia! A empregada no balcão de informações encolhe os ombros e volta-se para um recém-chegado.

As pessoas na sala de espera começam a desfiar as suas queixas para o ar. Uma delas espera há uma hora, outra quase há três. Volto ao balcão de informações e pergunto como se explica a diferença entre o quadro e a realidade. A funcionária finge que não me ouve mas um segurança explica-me que o tempo marcado na tabela é o tempo que leva um doente da triagem até ser visto pelo médico. O tempo que se espera até à triagem não é contabilizado. É excelente para as estatísticas! Tão bom como a maneira de contabilizar as listas de espera de cirurgia - só se contam os casos que se quer, da maneira que se quer, até se chegar a um número confortável.

Às 12h50 um enfermeiro vem actualizar o quadro. Apaga os 35 minutos que estavam na mesma linha que "Verde" e escreve um traço. Digo-lhe que estou à espera há uma hora e cinco minutos e que o seu quadro é uma fraude. Responde-me a mesma coisa que o segurança: o quadro mede o tempo desde a triagem até ao médico. Repito-lhe que o quadro induz os utentes em erro e que não passa de uma fraude. Responde-me que é enfermeiro, que não lhe compete ouvir a minha reclamação, que posso falar às funcionárias no balcão de atendimento.

Às 13h20 chamam o nome do meu familiar. Entramos na triagem. Um interrogatório sumário, uma medida de tensão, nenhuma observação. Regresso à sala de espera. Chamam-nos de novo passados quatro minutos. Uma hora e 40 minutos depois de ter visto escrito preto no branco que na Urgência de Santa Maria ninguém espera sequer um minuto para ser atendido, vemos à nossa frente o primeiro médico.

Interrogatório, exame, a papeleta começa a encher-se de pedidos de exames, de análises, de notas. Do médico passamos para uma sala de tratamentos. Às 14h00 o meu familiar é enviado para o Serviço de Observação, onde já não o posso acompanhar. Dizem-me para esperar no corredor, pois um médico virá falar comigo, para me pedir pormenores da história clínica. Espero meia hora, uma hora, duas horas. Ando de um lado para o outro frente ao guichet da enfermeira para que veja que estou por ali, de vez em quando pergunto quando poderei falar ao médico, peço informações. A dada altura a enfermeira, sempre delicada, explica-me que é mais urgente tratar os doentes que falar aos familiares. Claro que concordo, mas os dados da história clínica não serão necessários?

Às 17h30 vejo passar, numa maca, a pessoa que acompanho. Dizem-me que vai fazer uma ecografia e uma TAC. Posso acompanhá-la se quiser. Deixam-nos na sala de espera da Imagiologia. Um pouco depois das 19h00 faz a ecografia. Às 19h13 vai fazer a TAC.

Estamos no hospital há sete horas e meia mas a tabela afixada na urgência diz que o nosso tempo de espera é zero minutos. Nunca saberei quanto tempo demoraria todo o processo até ao diagnóstico porque a minha mãe morreu na mesa da TAC durante o exame.

A arte do tempo português

1.
Olho da janela larga para a rua estreita em frente. A rua estreita dá para um amplo parque de estacionamento. Vejo os carros a chegar. Raros são os carros que desaguam no parque de estacionamento gratuito; vão ficando por ali ao longo da rua, tornando-a ainda mais estreita. Chega um novo carro e fica mesmo em contramão na curva a menos de dois passos do primeiro lugar livre no parque. Finalmente chega um outro carro que toma o lugar atrás do anterior com o rabo para dentro da rua que se estrangula na curva à entrada do parque vazio. Dos carros, saem altíssimos jovens mais ou menos desportivos que dão passadas largas para o pavilhão ali ao lado. Penso eu: Vão atrasados! Mas olho para baixo e vejo-os por ali a conversar uns com os outros. Se tivessem cumprido as regras do estacionamento, demorariam um minuto mais a chegar à esquina. Não têm um minuto a perder e não podem prejudicar o aquecimento que antecede o treino.
2.
Chego à repartição pública. O acto está marcado para as 10 horas. Às 11h dizem-nos que falta pouco. Quando acaba o que fomos fazer em 10 minutos, passaram 3 horas sobre a hora marcada. Para quem é que o meu tempo não vale um chavo?
3.
Chego ao consultório médico privado à hora marcada. Vou para a sala de espera. Passa-se uma, duas horas. Finalmente, chamam-me para ser atendido. Sou despachado – o médico lê os resultados das análises que lhe entrego e escreve um resumo na ficha clínica que vai preenchendo. Devolve-me os papeis, passados dez minutos ou menos. O recibo garante-me que os dez minutos do médico valem 60 euros. Uma das suas horas vale 360 euros. Porque é que as duas horas de vida que me roubou não valem coisa alguma?
4.
Compro uma máquina. Quando passado tempo avaria, telefona-se para a oficina de reparações recomendada que garante valer a pena consertar a máquina que é uma boa máquina. Vão marcando horas para virem ver a máquina e repará-la. Substituem o painel electrónico depois de nos ocuparem horas da nossa vida. Cobram o painel e o tempo e o painel fica avariado. Levam o painel novo e recolocam o antigo. Vão prometendo. Hão-de vir. Ficam com o painel e o dinheiro. Ficam com o nosso tempo que, para eles, vale nada. Avaria definitivamente o painel. O distribuidor da marca recomenda outra oficina. E vem um novo artista. Substitui o painel que fica a ser testado quando ele sai depois de ter cobrado. O painel novo também não funciona. Telefonamos até nos afogarmos em tristeza. Ficam sempre espantados quando dizemos: “A essa hora não! Não posso faltar ao trabalho!.”

Porque é que o tempo é sempre tão precioso para todos aqueles que não dão qualquer valia ao tempo dos outros? Públicos e privados, são milhares os que assim olham para os outros. São portugueses e isso faz de nós tristes figuras, vítimas tanto da incompetência como da arrogância, vítimas da má-educação. O debate sobre o "português" é sempre um debate sobre o passado da educação como presente que damos ao futuro.

[o aveiro; 13/11/2003]

Outras ameaças: Siza

Miguel Sousa Tavares assina A Ameaça Nº 1 e Outras Ameaças no Público da passada 6ª feira. Recomendo vivamente a leitura. E não resisto a transcrever a última das suas outras ameaças:



Uma luta desencadeada por um grupo de cidadãos, do qual tive a honra de fazer parte, impediu, aqui há uns anos, que a administração do Porto de Lisboa emparedasse o rio, através de um plano denominado POZOR, que consistia numa barreira de edificios separando de vez o Tejo da cidade. Dessa vez, a luta foi ganha, mas estas coisas regressam sempre ciclicamente. Eis que surge agora novo plano para a zona de Alcântara, que prevê, entre não sei quantos hotéis e edifícios vários, três torres de 105 metros de altura cada, uma em forma de cilindro, a outra em forma de pirâmide e a terceira em forma de qualquer coisa de que já não me lembro - talvez em forma de supositório. Assina o projecto o inevitável Siza Vieira, o que significa que conta à partida com o apoio entusiástico do presidente da câmara que alguns de vocês elegeram e com todas as aprovações necessárias, venham ou não venham previstas no PDM. Desta vez, palpita-me que a luta está perdida ou é mesmo inútil: quem somos nós, simples passeantes, amantes e olhantes do Tejo, para nos opormos à terrível tentação que o monstro sagrado que é Siza Vieira sempre teve de ocultar as vistas, sejam elas quais forem e seja onde for? Que lhe importará a ele que milhares de pessoas deixem de ver ali o rio, se passam a ver antes as suas torres, que algures, em Baden-Baden ou em Phoenix, no Arizona, um júri que jamais viu o Tejo em Lisboa se encarregará de premiar como obra-prima da arquitectura contemporânea?

Levem-nos tudo: as florestas, os parques, a ria de Alvor e a ria Formosa, o litoral alentejano. Mas deixem-nos ao menos ver o Tejo em Lisboa e o Douro no Porto. Será pedir de mais?

auri-negro

o beira mar ganhou ao benfica: o vermelho dá o lugar ao preto enquanto o amarelo passa a ser ouro
foi isso?
fiquei minúsculo por ter ouvido dizer que isso foi importante para aveiro.
o que é aveiro?

outras vezes desenhamos uma escada no verso


às vezes faz as vezes da pintura o verso das coisas


(…)

cego de amor
por ter disposto
as pedras todas
dos meus olhos
no teu rosto.

(…)

em teu corpo
precedem sempre a obra
pequenas demolições
a que, na sombra,
só o coração assiste.

(…)



in AS IMAGENS DOMINANTES de luis miguel queirós

O desejo do eclipse

Na noite de sábado para domingo próximos, será visível em Portugal o segundo eclipse lunar total do ano. A Lua esconde-se atrás da Terra e deixa de ver o Sol durante três horas e trinta e dois minutos, mergulhada num cone de sombra. Já em Maio deste ano, a Lua se tinha escondido do Sol atrás da Terra. Quando isso acontece, dou comigo a olhar para o céu na esperança de não ver, na esperança desse momento mágico em que deixo de ver a Lua enquanto a Terra a esconde do Sol. Não espero outra coisa senão a escuridão onde antes via a Lua. Como se a Lua procurasse a minha sombra para se esconder de mim. Preparo-me para a cerimónia. Sem abrir o jogo, sem mostrar os detalhes do vestido dos meus olhos, me preparo para o momento da escuridão. Com a cabeça na lua.

Há momentos em que pedimos a Lua como refúgio. Outras, como ponto de observação. Já imaginaram o sossego de quem tenta ver e ouvir, a partir da Lua, o debate sobre o Orçamento de Estado no nosso parlamento? Nem víamos o parlamento por mais que nos esforçássemos, nem ouvíamos o que por obrigação (e um pouco de temor, porque não dizê-lo?) temos de ouvir. Muito menos víamos ou ouvíamos o governo. Já imaginaram? Tão longe disto tudo, até podíamos fingir que o orçamento não nos afectava. Claro que perdíamos aquelas fases delirantes das trocas de galhardetes entre os deputados da maioria e o governo a respeito das maravilhas que uns produzem e os outros nem imaginariam possíveis e, por isso, tão embasbacados agradecem aos seus maiores. Eu sei que há disfarces para o ridículo, como há formas de disfarçar as rugas ou as brancas. Não me passava pela cabeça que os deputados da maioria no poder, no seu esforço de agradar ao governo, tivessem tanto orgulho em dar voz à vénia apatetada. Assumem-se no seu ridículo como outros se assumem para outras coisas. Há muito tempo que não misturava a vontade de rir com a piedade por essa humanidade bajulante. Se calhar sempre andou por aí nestes debates mais formais em que o governo jura que há chuva no nabal e sol na eira e eu é que me tenho dispensado de ouvir em pormenor.

Cada governo foi (antes de o ser) governo sombra de outro. Chegam mesmo a fazer sombra uns aos outros. Crescem à sombra uns dos outros. Tentam discursos brilhantes para iluminar o pais. Só que onde há luz, há sombra. Alguns ficam inundados de luz. Ao povo sobra sombra.
A Lua vai viver um eclipse aos meus olhos. O governo diz que não vai sofrer qualquer eclipse nos próximos tempos. Que pena! Um eclipse total de governo teria o seu encanto.

[o aveiro; 6/11/2003]

AInda a entrevista a Jorge Sampaio.

Da entrevista a Jorge Sampaio , transcrevo de O Público


(...)
P. - Os empresários portugueses estão à altura desse desafio?
R. - Tenho feito o percurso, tão criticado, de mostrar as coisas boas. O meu combate à lamúria vai continuar. Sei que há pessoas que fazem milagres, que há gente nova extremamente bem preparada, multinacionais que decidiram fazer os seus centros de excelência em Portugal. Não podemos render-nos à ideia de que "a malta não sabe matemática", precisamos é de travar uma batalha de vida ou morte para que escolas básicas acompanhem a matemática. É por aí que podemos vencer.
(…)
P. - Alterações do subsídio de desemprego?
R. - Não do subsídio de desemprego, mas o subsídio de doença preocupa-me. Não conheço nada para além do que vi nos jornais, não quero assustar ninguém, mas há uma coisa que é preciso dar a este país: segurança. As pessoas têm medo do desemprego, a vida da maior parte dos portugueses é muito dura, começa às sete da manhã e às vezes acaba às dez, onze da noite. Os portugueses normais, os que são empregados por conta de outrem, os que fazem as fábricas, têm de ter algum carinho. Porque é que são sempre os culpados de tudo? Até porque em Portugal há pobreza, há exclusão. Não vamos dramatizar, mas temos de trazer as pessoas aos mínimos de desenvolvimento, quando o crescimento é negativo temos de lhes assegurar o mínimo...
(…)
Agora se me perguntar onde é que eu gastaria dinheiro, digo-lhe francamente onde gastaria, independentemente de achar, como comandante supremo, que as FA têm de ser reequipadas.
P. - E onde seria?
R. - Nas escolas do ensino básico e secundário. Aí sim, é que iria muito além do que se faz. E pediria voluntários: há tantas pessoas reformadas, com 50 e tal anos, que têm cursos, porque é que não vão dar uma ajuda aos estudantes à tarde nas escolas? Os sindicatos não gostam muito desta ideia, mas sou amigo deles e tenho-lhes dito isto com franqueza. Esta é a grande causa nacional: aumentar a qualificação dos portugueses. Se não aumentarmos, seremos sempre periféricos. Apesar da situação geográfica do país, serão o nosso talento e a nossa capacidade que nos colocará no centro da Europa.
(…)

Louvor e crítica da serenidade.

Nos tempos que correm, eu não preciso de ouvir falar quem fala de acordo com o que penso. Não concordo com muitas opiniões e posições de Jorge Sampaio. E, no entanto, tenho de confessar que, depois de o ter ouvido, fiquei com a sensação de que tinha ouvido o que precisava.
Jorge Sampaio não foge a responder às perguntas. Pronuncia-se calma e normalmente, sem ceder à pressão dos assuntos. Não deixa de dar a opinião pessoal, mesmo quando a decisão presidencial pode não ser concordante em sentido estrito com ela. Aproveita para separar os diversos níveis, as competências e as responsabilidades das diversas instâncias.
Temos sempre a tentação de ter o Presidente da República do lado das nossas leituras e interpretações da Constituição e, no uso das suas competências, de dar sequência aos processos em acordo com o que achamos melhor como legítimo e plausível. É verdade que ele não se decide pela inibição em promulgar algumas leis que, do nosso ponto de vista, desafiam a Constituição. Estamos a pensar em diminuições dramáticas nas responsabilidades do Estado, particularmente na educação e na saúde. Somos contra a transformação dos hospitais em empresas e contra o desinvestimento na educação pública e o afastamento relativamente à gratuitidade dos serviços (obviamente conjugada com a responsabilização dos utentes e o rigor na cobrança fiscal para suportar a prestação social). Achamos mesmo que as últimas leis deste governo para estes domínios vão contra a Constituição. Assim não entende Sampaio. Mas é verdade que Jorge Sampaio combate as tendências liberais representadas pelos entrevistadores, não deixando de chamar a atenção para as obrigações do Estado num serviço nacional de saúde e em serviços públicos de educação e ensino, desde o pré-escolar até ao superior.
Damos particular ênfase às declarações de Jorge Sampaio em favor dos trabalhadores pobres e desprotegidos, a favor dos desempregados e contra as politicas que permitem às empresas tomar iniciativas selvagens contra a estabilidade de emprego e os direitos dos trabalhadores.
Os tempos vão tão difíceis que uma intervenção serena, ainda que humana, contraditória e muito aquém do que seria desejável em criticas à actuação do governo, me ajuda a viver neste tempo e neste lugar. E a ganhar confiança de que vale a pena ser pessoa, ter opinião e princípios.
Precisava de alguma coisa assim em contraste com a histeria tola dos últimos tempos. Não tive o que queria, mas precisava do que tive.

[o aveiro, 30/10/2003]

A casa dos rumores.




Eu gosto de pensar que me acham uma pessoa normal. E isso quer dizer que tenho família, amigos, conhecidos, compromissos sociais e políticos, profissão e colegas de trabalho. Uma única vida? Uma única vida de vidas - vida íntima e privada, vida profissional, vida cultural, académica, social, politica. Para cada uma, a normalidade exige diversos níveis de pensamento, de discurso nos gestos e nas palavras, de actos, etc. Quantos disparates digo eu em casa e ao telefone, com os familiares e amigos? Eu sei, e todos o sabem, que, a quente(!), digo coisas sem consequências sociais porque são filtradas e excluídas pela razão de quem vive em sociedade. Quando o disparate é grande, há logo quem diga: Nem as pensas!. E há sempre quem se ria e me dê o devido desconto. A quem é que nunca foi preciso dar desconto?
As coisas que eu digo e faço nos meus círculos restritos, para terem sentido e serem interpretadas sem dramas por estranhos, exigem explicações detalhadas de contexto, ambiente, da maneira de ser, dos tiques, das rotinas da felicidade, do círculo virtuoso da intimidade, da amizade, da cumplicidade, etc.
Se alguém precisar de escutar os barulhos de um dos meus dias inteiros, não vai ter grandes surpresas se for normal. Mas se quiser compreender a totalidade do que escuta vai pedir uma descrição do meu mundo. Ou não perceberá coisa alguma.
Eu tento cumprir o que da boca me sai para o público e se transforma em compromisso social. Disso presto contas sociais. Espero compreensão, cumplicidade de leituras e lealdade aos que me rodeiam nos diversos círculos em que me movo.
Há os que dizem que quem não deve, não teme. Não devo nem temo? Eu não devo nem dou a minha vida privada a quem quer que seja que nela não entre por direito. E se for um estranho a ter acesso à minha vida privada por direito (que a sociedade lhe confere) assiste-me o direito de esclarecer e de poder continuar a usar os meus códigos próprios, pessoais, privados, … que me tornam único e reconhecível por quem me ama tal como sou em cada um dos círculos concêntricos que se intersectam com os círculos concêntricos de cada uma das outras pessoas.

Eu quero ser eu e o outro, o que escuta e é escutado, o que não trai nem é traído, o que vive livre no seu lugar. Apesar de ter vivido a última semana neste pais, quero ser eu.

[o aveiro; 23/10/2003]

O que lhes está acontecer?

O que lhes está a acontecer é coisa para fazer com que nos aconteçam coisas a nós. O Prego no Sapato chamou-nos a atenção para uma carta ao director escrita, por A. Lima, para O Público. Faz uma viagem entre a história do que viu acontecer e do que viu na televisão como sendo o acontecido. Transcrevemos:


(...)
Ao chegar ao topo da escadaria percorreu dez metros, com dois ou três cumprimentos pelo meio, e entrou de imediato numa sala onde ficou fechado com algumas pessoas durante o restante período que permaneceu na Assembleia da República.

Durante esse pequeno percurso presenciei o fenómeno verdadeiramente assustador de cerca de 50 jornalistas, fotógrafos e operadores de câmaras num "assalto" completamente desvairado para captarem imagens ou recolherem declarações dos deputados. Corriam, empurravam-se e gritavam, fazendo com que os restantes presentes se afastassem estarrecidos com o que estava a suceder. Foi nessa ocasião que alguns fotógrafos (seis ou sete) saltaram para cima de uma mesa grande, que, com o peso e com outros empurrões desses trabalhadores da comunicação, se partiu com aparato.

(...)
Ao pé de mim, um fotógrafo levantou-se com um ar absolutamente tresloucado, muito vermelho, pingando suor e quase sem conseguir falar, dirigiu-se a quatro deputadas do PS e do PSD que se encontravam a um canto dos Passos Perdidos a observarem, espantadas, toda esta cena e, parecendo que lhes queria bater, gritou-lhes: "Quem é que pôs ali aquela merda."

Nessa altura, já Paulo Pedroso estava a caminho do Rato e aquela meia centena de jornalistas (até tenho dificuldade em chamar-lhes assim) precipitaram-se a correr para ir atrás dele.

(...)


Assim A. Lima termina a sua carta:


Estes são os factos que presenciei, que me fizeram perceber quanto, em Portugal, os verdadeiros profissionais da comunicação social carecem de fazer um debate sério sobre o que lhes anda a acontecer. Não tanto pelo triste espectáculo, mas pelo que, a partir da sua própria excitação, construíram para a opinião pública.

(...) Por favor, seriedade precisa-se!



A forma como estas coisas se passam não pode ser atribuída ao voluntarismo e histerismo de jornalistas jovens e impacientes por fazer e ser notícia. Tem a mão dos chefes que definem políticas e estilos de informação.

E o que lhes está a acontecer, como feras de uma selva de "in"formação, ainda faz acontecer alguma coisinha má a todos nós.

retrato

Desenho 16




Marina - nome, pronome, pormenor.










A Administração do Porto de Aveiro, SA abriu concurso público para atribuição de uma concessão em regime de serviço público com vista à concepção, construção e exploração de uma marina. Ganhou o concurso a empresa “Sociedade de Desenvolvimento e Exploração da Marina da Barra, SA “ que tem o objectivo de rentabilizar um investimento. Assim, o projecto posto à discussão só tem a ver com a especulação imobiliária e a marina não é mais que uma justificação paralela para a ocupação da zona protegida.
Ao longo dos tempos, sucederam-se os alertas sobre as formações das línguas de água e areia e o historial da luta nem sempre vitoriosa do engenho humano contra as dinâmicas naturais em tudo o que respeita à ria no seu conjunto, aos seus braços e especialmente ao controle da foz. A memória do desnivelamento da ponte da Gafanha alimenta inquietações sobre a dinâmica das correntes na ria. A obra projectada implica um estreitamento brutal de um dos braços da ria mais perto do mar. Os estudos a longo prazo sobre as consequências do aquecimento global colocam em risco todo o cordão dunar e é certo que, todos os investimentos feitos (como concessão ou não) em construção civil sobre as dunas e sobre as águas são uma forma de pressão para novas construções para defesa do património construído e do investimento financeiro, na lógica de substituir o natural por margens de betão.
Nenhum estudo de impacte ambiental pode ser justo e razoável se não considerar um futuro alargado e não estabelecer seriamente a realidade futura que almeja o tipo de desenvolvimento em que assentam projectos como o da Marina(?). O estudo que foi apresentado à discussão pública não esconde o que se destrói definitivamente em termos do ecossistema (da água ocupada, lodosa) no que ele representa de extinção para muitas espécies piscícolas que nele crescem e se desenvolvem, antes da idade adulta. Mas não lhe atribui importância, considerando mesmo que a zona estaria degradada (de que ponto de vista? para que fins?) mesmo quando realça estar ela a cumprir uma função primordial no conjunto da ria e da entrada da barra. De resto, o estudo não faz mais do que esconder os impactes negativos da obra projectada sob um rol de pormenores com que os interessados respondem às criticas e dúvidas de todos os que se preocupam mais com o futuro da barra e menos com a promoção da exploração imobiliária combinada com turismo consistente com “desenvolvimento” e “progresso” discutíveis.
Para melhor fazer esquecer as consequências para a ria e as espécies piscícolas, algumas delas de impossível regeneração mesmo a longo prazo, o estudo de impacte esforça-se por alinhar pormenores de futuras intervenções que podem melhorar ou mesmo criar ambientes favoráveis para algumas espécies de aves e para ocupações artesanais marginais ao projecto.
Finalmente, o estudo de impacte ambiental espraia-se em considerações sobre as vantagens de desenvolvimento económico, com a criação de empregos na construção, ou de empregos nos serviços futuros. Não estamos em desacordo com o aumento da densidade populacional ou da oferta turística no concelho de Ílhavo. Mas só podemos achar deprimente que isso se faça sobre pressão na Barra. O número de lugares de estacionamento por habitação e por serviço fornece indicações seguras sobre o que se pretende. E a construção de passagens desniveladas no corpo da Barra não é seguramente motivo para qualquer alivio, se nos lembrarmos dos congestionamentos diários na IP5 nos acessos à cidade de Aveiro. Os fins de semana e os dias de verão são uma outra história triste que garante a indigência do planeamento intermunicipal para as redes viárias e os transportes.
Para a Barra, podemos aprovar infra-estruturas para actividades náuticas, integradas em “cadeia de apoios” ao longo da costa. Não podemos estar de acordo com um projecto que faz sombra à marina e a torna num insignificante pormenor ou nome de pesadelo.

Quantos anos tem o futuro?


[o aveiro; 16/10/2003]


O inimigo rumor

O que mais irrita nesta coisa toda é a falta de clareza da generalidade dos comentqadores políticos que se esgueiram das salas dos actos e factos e acham que os actos e factos errados são consequências inevitáveis das leis, dos modelos de organização e dos sistemas. Como se as pessoas educadas não tivessem liberdade para fazer bem em vez de fazer mal. Como se fosse uma maldição inevitável termos ministérios a embrulhar-se nos assuntos uns dos outros e minudências interfamiliares típicas das paróquias pequenas.
Não é o morgado que obriga o mestre escola a tratar de modo diferente o seu filho mais parvo. De facto, é o feitor (e o mestre escola, com ajuda do padre e do barbeiro) quem toma iniciativas visando agradar ao morgado, ao patrão, etc. Acredito na palavra do morgado quando garante não ter obrigado pessoas a dar um tratamento desigual para o seu filho mais inteligente. Também não acredito na ingenuidade do morgado. Um morgado bem educado ou bem formado interromperia o ciclo da sabujice.

Chamadas de atenção

Chamo a atenção para o artigo de BÁRBARA WONG (n'O Público) Liceu Francês Atribui Bonificações às Notas dos Alunos que esclarece a questão da situação de favor dos estudantes do Liceu Francês de Lisboa. Com a devida vénia, transcrevo parte dele:


Ao PÚBLICO, Meira Soares explica que o que aconteceu até agora é que a tutela aceitava as classificações fornecidas pelo Charles Lepierre - que tem "regras internas" para calcular as notas dos alunos -, em vez das certificadas pela Academia de Toulouse, uma espécie de direcção regional de educação do Ministério da Educação francês, que superintende a escola em Portugal.

Só que, a partir deste ano, depois de aprovado o decreto-lei 26/2003, a CNAES tem poderes para validar, ou não, as notas que são apresentadas pelas escolas internacionais. E o que a comissão pediu a todas as instituições é que mostrem os documentos emitidos pelas entidades competentes do país de origem, de maneira a que os seus alunos possam concorrer de igual para igual com os do sistema português. Afinal, as classificações das provas de ingresso dos estudantes portugueses também são validadas pelo Júri Nacional de Exames.

Como o Liceu Francês tem critérios internos para as classificações, as notas acabam por divergir das emitidas por Toulouse em vários pontos. Segundo documentos a que o PÚBLICO teve acesso, um aluno com oito valores a Matemática, certificado por Toulouse, vê essa nota subir para 12 valores, segundo as tais regras internas de classificação da escola.

Esse certificado, com as notas do final do secundário, é assinado pelo director e autenticado com o selo do serviço cultural da Embaixada de França. Nesse mesmo documento, pode ler-se que as classificações só são válidas para o sistema de ensino português.




Meira Soares, presidente do CNAES, não desmente o essencial deste artigo, na sua
resposta
publicada também n'O Público,

O cheiro nas farsas do poder.

1. Nos últimos dias, a comunicação social prestou um serviço relevante à comunidade. Denunciou alguma situação de favor atribuída aos estudantes de alguma das escolas internacionais de Lisboa. Isto é muito importante. Convém não esquecermos que é possível que a maioria dos estudantes do Liceu Francês de Lisboa seja constituída por portugueses residentes em Portugal, na companhia dos seus pais portugueses. Quem são estes portugueses estrangeiros que acham normal terem protecção especial? São estranhos aos portugueses comuns. Pelo menos.

2. É claro que tudo se tornou demasiado claro com o caso da filha do Ministro dos Negócios Estrangeiros que, além da situação de favor como aluna do Liceu Francês de Lisboa, quis acrescentar a integração no contingente especial para alunos residentes no estrangeiro, considerado no regime especial de acesso ao ensino superior português, criado para proteger certos jovens estrangeiros ou portugueses a estudar no estrangeiro por deslocação prolongada dos pais em serviço. Não realizou os exames nacionais, mas isso não foi suficiente e arranjou uma vaga. (Insisto: Porque é que as classificações internas do Liceu Francês não precisam de ser aferidas pelo sistema de exames português? Para estudantes portugueses que querem ingressar no ensino superior português, porquê?)

3. Demite-se Pedro Lynce, após as públicas denúncias do requerimento do ilegítimo (feito pela estudante dos negócios estrangeiros) e dos despachos ilícitos sobre ele feitos pelos responsáveis do Ministério que tutela o ensino superior. A demissão é rodeada de grandes declarações de dignidade, honra, elevado espírito de serviço, respeito pela lei, etc por parte de todos os que puderam e quiseram falar como altifalantes do governo e dos partidos do governo. Estabelecem-se mesmo debates sobre o valor inviolável da palavra de honra dos homens de bem sacrificados no altar do serviço da pátria, a bem da nação, etc.

4. Havia ainda páginas da farsa por publicar. E, nessas páginas, se desvenda uma teia de ante-projectos e projectos de despachos que aparentam não ter sido tentados senão para resolver o caso. Convites, deslizes, propostas, … Houve muito trabalho técnico esforçado, muito dedicado serviço público para uso privado. Para quê ou para quem?
Finalmente, Martins da Cruz demite-se. E, de novo, um coro canta as abstractas dignidade e honra, as qualidades do serviço do demitido, etc na tentativa vã de se sobrepor a todas as vozes que nos devolvem, pela informação dos factos, a dignidade de homens livres e iguais num estado de dever e de direito. Quem merece ser investigado?

5. Eu dou muito valor à palavra de honra dos homens de bem. Na terra da minha infância, a palavra de honra valia mais que assinatura. Nem se falava na honra, … dava-se a palavra.

6. O encenador das farsas do poder insistiu nos cheiros para criar o ambiente, tão próximo quanto possível da realidade. Chegou a altura das cenas em que cheira mal, muito mal mesmo.


[o aveiro, 9/10/2003]

Os passos reencontrados, de Carlos Marques Queirós

Desenho 12


O José Carlos Soares lembrou-me dois livros que estimo. Um deles, Escrever é um engano de Carlos Saraiva Pinto, já o tenho numa gaveta da escrivaninha. E que bom que era se o Carlos Marques Queirós deixasse abrir uma nova gaveta de luz com Os Passos Reencontrados



os filólogos preferem os primeiros rebentos
das rosas, os meses do outono, os corações
repletos, mas ele vê no trabalho da plaina
as aparas e suspeita do sorriso das rosas.

não sobra integridade. todas as tábuas
irão por sobre a borda. o seu ofício é
de topógrafo, deixar as marcas na sua criação
que a hostilidade desenhou lá fora.


livros de poesia

OS PASSOS REENCONTRADOS - Carlos Marques Queirós, na ASA

ESCREVER FOI UM ENGANO - Carlos Saraiva Pinto, nO Correio dos Navios... e na página do arsélio.


verdadeiramente anti-light, apesar de nos inundarem de luz... e de sombra.

Flores de papel

Desenho 11





Acabei de saber que finalmente saíu em papel o Areia de Same de José Carlos Soares.



Solta um bando
um sono de meninas
branco. Parado

brinco e deixo
que demore
o que da queda

é sombra. Deixo que devore
a descarnada relva filosófica.


Didáctica do Alemão

Na sexta feira passada, fui assistir a uma dissertação sobre a opacidade (lexical?) do alemão, como língua, para os aprendentes (porque falarão assim?). Parece que temos um primeiro mestre em didáctica do Alemão. Parabéns ao novo mestre. Para além do que aprendi, ainda desenhei algumas coisas no caderninho de colo.

Desenho 10 - opaco para não se saber quem é tirolês.





Desenho sem Lynce

Desenho 9 - da minha antiguidade





Algumas cenas da vida íntima do governo podem ser confrangedoras. Não gostei coisa alguma de ver e saber o que se pode passar com os acessos ao ensino superior e, menos que tudo, gostei de tomar conhecimento das manobras internas que se aceitavam ao liceu francês que, em vez de utilizarem notas certificadas pela frança, se utilizavam notas atribuídas segundo regras internas (que não correspondiam às notas certificadas pelas autoridades). O ministro do ensino superior sempre me pareceu um parolo(talvez pela maneira de falar e por algumas tolices verbais (a conjugação do verbo haver não lhe era familiar) que não o ajudavam a ser ministro). Mas parece-me desagradável que uma crise de governo acabe com o sacrifício do único lynce que eu podia ver em liberdade. Dispensar o ministro da lyncenciaturas é um erro. Ganharam os ecologistas que há muito se revoltavam contra a exploração do Lynce no cativeiro do governo. Mas custa-me. Passo a ver o lynce muito menos vezes.

A forma da sala de estar.

1.
A forma da sala de estar tem muita importância. Veja-se o cuidado posto na sala de estar da reunião magna do Partido Popular. Em vez da disposição de uma típica sala de estar, preferiram uma arena central e a forma de circo americano para estar. Como se houvesse um combate de boxe ou uma deambulação de feras amestradas para serem vistas por todos os lados, excluído o estreito túnel de entrada das feras, dos palhaços, dos lutadores.

As demonstrações da arena dão razão a quem diz que PP quer dizer muito Paulo Portas e pouco Partido Popular. De facto, já não é só no investimento da autoridade pessoal sobre o presente. Paulo Portas até propiciou uma reescrita da história do CDS/PP que passou a ser só PP – já não existem os protagonistas dos anos passados. Só restou a referência a Amaro da Costa que, para P. Portas, tem a vantagem de estar morto. Portas apagou todos os restantes nomes da memória do CDS/PP de que recordamos alguns: Freitas do Amaral, Lucas Pires, Adriano Moreira e Manuel Monteiro. Estamos em crer que P. Portas tem medo dos vivos e não acredita na alma eterna de quem quer que seja.

De resto, P. Portas fez as suas declarações de sobrevivência dentro da coligação e profissões de fé na verticalidade das suas convicções de direita: não tem vergonha de ser cristão de direita, não tem vergonha de ser patriota, não tem vergonha de defender o que pensa sobre a imigração, o aborto, etc … não tem vergonha. Como diria a minha mãe, depois de o ver enterrar os vivos, “não tem vergonha nenhuma!”. Talvez seja mais justo dizer que P. Portas não fala das coisas de que tem vergonha.

2.
Foram publicados os “rankings” das escolas. Mais uma vez, comparam-se escolas públicas com escolas privadas e o nosso Ministro insiste que tudo depende dos projectos educativos das escolas, como se dependesse de cada escola pública ter um projecto educativo do mesmo modo que uma privada o pode ter. Eu também penso que tudo depende dos projectos educativos, mas … das famílias, sendo que há famílias que não podem ou não sabem ter projectos educativos e escolares para os seus filhos. As escolas de Aveiro sobem ou descem de um ano para o outro nos “rankings” sem ter havido quaisquer mudanças a não ser uma: os estudantes (e os pais) de um ano não são os mesmo do ano anterior. Não diminuo o papel das escolas que precisam de melhorar, diminuo o significado do “ranking”. Cada escola é uma sala de estar de famílias da cidade.

3.
Lembram-se das trocas de acusações à política geral e à coordenação dos diversos serviços ligados à floresta, à prevenção e ao combate dos incêndios florestais? Houve demissões. Antes, demitiram-se de tomar as medidas mais adequadas e de fazer nomeações na base da competência. Depois, demitem-se as pessoas ainda antes das lições politicas. E aparecem as denúncias, neste momento com carácter de urgência, das já conhecidas corrupções (pequenas e grandes) dos comandantes dos bombeiros locais. Porquê assim e neste momento? Os bombeiros combatem os incêndios. Quem combate estes convenientes fogos de baralhação informativa? Na sala de estar de cada um, a consciência tem de armar-se em extintor.

[o aveiro; 2/10/2003]

2001 - Regresso ao trabalho. Regresso à escola.

O Público de sábado passado (e penso que outros jornais) publicaram as listas seriadas das escolas considerados os resultados deste ano. O Público dedicou a esta questão um caderno destacável.
Ainda não tive tempo de olhar com cuidado para a lista seriada deste ano e para os artigos de análise que constituem o caderno "Estado das escolas portuguesas". O título do caderno é, concerteza, a obra: chamam maximizante à abcissa de um valor mínimo da função informação sobre a coisa das escolas portuguesas. Esquecida a presunção da coisa, não podemos deixar de elogiar a vontade de influenciar as escolas para o bem e para o mal. Também vale a pena ler o artigo Regar a areia de António Barreto da edição de domingo.

Quando o "ranking" foi publicado pela primeira vez, escrevi para o jornal local o texto que se segue. Depois dessa primeira publicação, os resultados considerados para o "ranking" da escola em que trabalho foram piorando e a média desceu cerca de 1 valor. Não creio que a competência e o empenho dos docentes tenha baixado de nível, nem acredito que tenha havido alterações de monta em quaisquer aspectos. O que mudou? A resposta não pode ser dada pelo "ranking", mas é preciso reflectir sobre a escola. Lá isso.... Conseguiremos ter novas ideias em 2003?



Regresso ao trabalho. Regresso à escola.

Diversos jornais publicaram diversas listas seriando as escolas secundárias por alguma ordem ditada pela consideração de resultados no exames do 12º ano deste ou daquele conjunto de disciplinas, extraídos da globalidade dos dados divulgados pelo Ministério da Educação.

A divulgação de resultados, mesmo que em parte, de algum serviço público há-de servir sempre para fazer reflectir os profissionais desse serviço e os membros das comunidades que eles servem. Ainda mais quando os resultados são muito claros quanto a um profundo deslizamento para a negativa de resultados dos exames de alunos considerados aptos pelos professores que os acompanharam nos seus desempenhos em 3 anos da escolaridade secundária e depois de os terem submetido a provas globais em 2 anos.

Do ponto de vista geral, não se ficou a saber o que não se esperava. Os comentadores podem dizer o que diziam antes: há problemas graves no ensino secundário, há dois países, um do litoral e outro do interior, um de ricos e outro de pobres, e mais umas tantas coisas comparativas entre as escolas privadas e as públicas. Também se podem atribuir as culpas ao presente e ao passado das políticas, das legislaturas, das governações. Antigos governantes podem até fingir que o problema é dos actuais governantes, as instituições académicas dos diversos níveis de ensino, as comunidades académicas, científicas e profissionais podem acusar-se umas às outras de conspirações prejudiciais ao ensino, etc.

O que nós sabemos é que temos um problema difícil de resolver, que não estamos a conseguir resolver e que as escolas não vão resolver sozinhas. Mas convém dizer que não estamos pior que antigamente, no tempo em que o ensino secundário era só para alguns poucos. Estamos melhor, mas pouco melhor. Há muito mais gente nesta escola e é preciso mudá-la para obter resultados. Antigamente, só ia estudar quem tinha muito interesse nisso (interesse próprio, da família,…) e, mesmo entre esses, havia um relativo grande insucesso. As competências que as famílias e o estado atribuíam às escolas para garantir o sucesso escolar da elite era extremamente elevado, cedendo muito pouco à individualidade dos filhos estudantes e, antes, exigindo esforço, responsabilidade e disciplina (obediência, sem restrições) aos seus filhos perante a escola e o trabalho escolar.

Houve, entretanto, e a acompanhar a massificação da escola, uma revolução no que respeita ao acesso à informação e aos bens de consumo (também de cultura), aumentando brutalmente a confusão e a ideia da facilidade em ter o saber (e o sucesso também) mesmo sendo ignorante, iletrado, sem saber ler nem escrever. E gerações de pais ainda longe do saber escolar.

As escolas privadas não podem ser comparadas com as públicas, não só porque seleccionam os seus alunos, mas principalmente porque são seleccionados pelas famílias dos seus alunos no que isto significa de mandato pedido e meio estabelecido. A importância atribuída ao saber escolar e aos resultados dos exames resulta para as escolas privadas num enriquecimento do mandato e dos meios, num fortalecimento da hierarquia, num aumento de exigência consentido pelos pais, em disciplina, etc. Os alunos das escolas privadas têm mais horas de matemática, apoiadas nos professores, se for caso disso. Os pais querem, a escola dá, o aluno é obrigado a trabalhar essa hora de vida.

A única coisa espantosa nesta publicitação das listas é a fraqueza das médias das melhores escolas privadas e também de algumas das públicas (em que os utentes são classificados como muito perto do saber escolar, aquilo a que chamam a classe média e média alta). Profundamente preocupantes são os resultados das melhores escolas privadas.

Nas escolas públicas, a maioria das famílias não só quer pouco, como espera pouco e às vezes até impede que a escola faça o pouco que pode e tem de fazer (no cumprimento da lei que nos torna publicamente iguais). Basta ver os papéis assinados pelos pais e encarregados de educação para justificar o injustificável nos filhos, as explicações desculpabilizantes para os actos reprováveis das crianças e jovens, as complicações para conseguir aprovar uma hora mais de trabalho escolar quando tal é possível, … Pobre mandato, mais pobres meios tanto da parte do estado como das famílias..

Numa escola como a José Estêvão, a confiar no Público, entre as 20 melhores escolas públicas do país e a 37ª entre todas as escolas do país, o que é verdade é que temos um pequeno conjunto de alunos provenientes de famílias que dão elevada importância ao saber escolar e exigem dos seus filhos um desempenho elevado que permita o prosseguimento de estudos, como é natural numa cidade em desenvolvimento… E são estes que seguram as médias.

A situação não é boa. Há um elevado número dos nossos alunos que, em provas de exame, não correspondem aos resultados obtidos na frequência. Isso é preocupante. Temos de melhorar as escolas. E para isso temos de melhorar muito o envolvimento dos pais na escola e especialmente o empenhamento dos pais no sentido de incentivar a responsabilização, a disciplina, o esforço dos seus filhos.

Não temos soluções de um dia para o outro para um atraso de 20 anos ou mais. Sabemos que uma parte do problema só pode ser resolvido por um regresso ao trabalho, à disciplina, ao esforço, ao interesse, à responsabilidade. Mas isso vai ter de ser feito com exemplos a seguir. A escola ainda vai ser um exemplo a seguir. Para já, talvez precise de exemplos que possa seguir. Nenhum paleio a pode salvar.


(Out. 2001)

olá   arsélio

ainda às apalpadelas a ver se encontro a porta e chave, vou tentar entrar no teu lado esquerdo.
que pena não escreverem para ti -não sabem o que perdem.
eu detesto escrever em teclados, não me apetece emendar a gramática tonta da pressa nem de retirar as letras atrevidas que se me atravessAM NA ESCRITA.
OLHA, CRESCERAM!
se eu conseguir entender onde carregar para enviar este abraço, ele irá.
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prefiro soul darkness birds on the wire, essas belas tretas...

As árvores, as sementes



No Funchal, a Escola da Levada está rodeada de árvores. O vento soprou poucas vezes e mansinho. Mas mesmo assim, passaram por mim a voar algumas sementes voadoras. Algumas já eu conhecia de outros lugares. Novidade foi o que me parecia ser uma voadora bola de 4 folhas levíssima. Quando abri o embrulho voador, vejo um habitáculo para 3 sementes viajantes. Aqui ficam fotografadas sobre tampos de mesas da Escola da Levada. Os tampos de mesa das escolas são de materiais pobres. São belos os tampos pobres. Não são?

Em vez de ....

Hoje, em vez de colocar por aqui uma fotografia mal tirada por mim, recomendo uma volta por algumas fotografias do amigo murtoseiro Manuel Arcêncio que acontecem em Irraquéchato.

Depois deste gesto que vos leva até boas fotografias, fico mais aliviado e menos inibido para colocar algumas das minhas impressões (sem ter de pedir desculpa).

Desenho 8 - Antigo desenho de uma reunião "come olhos"



Já sentia a falta de um desenho para me descansar. Gosto de desenhar. Em folhinhas pequeninas ou nas toalhas de papel ou em folhas secas de uma árvore que as deixe cair dentro do meu sonho no sono descansado.

Li e recomendo

Ainda há poucos dias, recomendava um artigo de Ana Sá Lopes. Pois hoje aqui estou a recomendar um outro."Estado de Direito, 'Estado das Coisas' ". Aparentemente sobre o mesmo assunto "justiça, pedofilia, abuso sexual de menores,…", recomendaria a leitura do editorial de O Público da autoria de Eduardo Dâmaso, "O TC e a Casa Pia ".
Do mesmo jornal, para além do ranking das escolas (que merece um caderno destacável e a que voltaremos aqui certamente), recomendo a carta aberta de Pacheco Pereira a Lobo Xavier sobre a coerência, a que deu o título de "Missão Impossível" e que aparece no ABRUPTO . O Abrupto já se livrou da publicidade de topo. Como terá feito?

Edifício que educa

Na semana passada, estive a trabalhar com professores de Matemática numa escola do Funchal. A Escola da Levada situa-se numa encosta. Das janelas da escola, podemos ver os quintais verdes de bananeiras, os jardins e a cidade a espreguiçar-se até ao mar. Mas se olharmos para mais perto, vemos os campos de jogos da escola ainda sem alunos. Os campos (e são muitos) estão cercados, bem marcados, com os pisos tratados. Olhando com mais atenção, vemos homens a trabalhar nos campos de jogos da escola. De fato macaco, consertam as madeiras e os ferros das balizas. Já estive várias vezes nessa escola e sempre me deixou feliz a boa conservação dos equipamentos que ia vendo.
Visitei também algumas escolas de Aveiro. Ando feliz por ver que muitas têm melhorado as condições e se têm tornado mais habitáveis para todos os que nelas trabalham (funcionários, professores e estudantes) e acolhedoras para os que as visitam. O caso mais recente de recuperação e melhoria bem visível é o da Escola Mário Sacramento.

Falo de escolas, porque é o mundo em que cresci e trabalho. E falo das obras de recuperação (e manutenção) porque tenho para mim que os cidadãos ou se formam em escolas e cidades que lhes sirvam de casa saudável que aprendam a respeitar e a preservar ou se deformam para o desprezo pelo serviço público de educação, outros serviços, espaços e equipamentos públicos. A falta de condições dos espaços escolares (a começar pelas de higiene) ao longo das últimas décadas (e ainda hoje) é um indicador de pobreza mental. Ninguém aprende a respeitar a cidade e a nação (o seu património natural e construído) com palavras. As palavras dos professores sobre a cidade não anunciam a cidade a partir do deserto. São antes palavras ditas sobre o que a cidade deve ser, em salas degradadas no avesso das palavras proferidas e ouvidas dentro dos muros da cidade.

Entrei para uma escola primária sem condições (nas outras aldeias não existiam ou eram bem piores), passei por liceus e faculdades em que a pobreza de meios e a falta de condições eram mais visíveis que a ciência e a cultura. E trabalhei em várias escolas tão degradadas quanto milagrosas já que, apesar das suas condições, formaram cidadãos exigentes, zeladores e construtores da cidade. Precisamos que os pais e mães dos actuais estudantes não aceitem as escolas tal como as viveram e exijam espaços escolares dignos para os seus filhos.

Pelo meu lado, fico feliz pela manutenção dos campos de jogos da escola da Levada e assim estou a desejar para as escolas de Aveiro campos com bons pisos e com os equipamentos necessários bem cuidados. Quando me entusiasmo com as obras de recuperação de uma escola, quando me maravilho com uma biblioteca escolar luminosa e confortável (como a da Escola Mário Sacramento) estou a dizer que todas as escolas precisam de bibliotecas luminosas e confortáveis. Porque as boas escolas educam. A civilização da escola exige bons edifícios escolares. O edifício e seus equipamentos educam mais que as palavras e também denunciam o valor que os poderes atribuem à educação.

Os cidadãos passam muito tempo nas escolas da cidade. Aprendemos a abraçar a cidade e o mundo, enquanto subimos os andaimes para os trabalhos da casa que a cidade é.

[o aveiro, 25/09/2003]

Política para a imigração deste governo(?) ou do Portas(?)

No artigo "Portas que se fecham e se abrem" congratulava-me pelas divergências entre Pacheco Pereira e Paulo Portas e dava a entender que isso era bom em parte porque significava que a política de Portas podia não ser a da coligação no poder. Ou mesmo que fosse, essa divergência abria uma fenda ainda que envergonhada. Devo vir aqui dizer que no fundmental concordo com o que Ana Sá Lopes escreve no Público do passado dia 20, sob o título "O gémeo diferente". Desse artigo de Ana Sá Lopes, com a devida vénia, transcrevo dois parágrafos:

(...) Quando o secretário de Estado Feliciano Barreiras Duarte classifica como "demagógica uma visão extremista que diz que Portugal não precisa de ter imigrantes porque estão a tirar trabalho aos portugueses", não é movido por qualquer arroubo unipessoal: foi certamente autorizado por Durão Barroso para conter, em termos de imagem governamental, a deriva populista de Paulo Portas, segurando o PSD num papel mais tranquilizador, social-democrata, que rejeita discursos negativos sobre a imigração para agregar o eleitorado moderado.

Temos, assim, a coligação a funcionar em plenitude, dividindo tarefas: Durão Barroso, no sossego político de quem já aprovou a nova lei da imigração que fixa anualmente "o montante" de entradas, pode dedicar-se ao discurso humanista, tolerante, não chocando a "esquerda" do seu partido, o PSD. Paulo Portas, com todo o prazer, ocupa-se dos extremos da direita, cujo eleitorado corre o risco de vir a ser seduzido pela Nova Democracia de Manuel Monteiro.

Madeira - Árvores do Fanal 2




Fotografia de J. Luis Freitas

Madeira - Árvores do Fanal 1




Fotografia de J. Luis Freitas



Da caminhada da Ribeira Funda ao Fanal, fixo árvores solitárias que olham as nuvens do alto das escarpas. Não sei porquê, lembram-me Rilke e as elegias de Duino.

Na encosta do Pico Ana Ferreira - Porto Santo

Do Funchal guardo principalmente o colo imenso da Phytalacca dioica (conhecida pela Bela Sombra) mesmo ali na esquina do jardim que dá para o hotel em que me guardo, quando vou trabalhar à Madeira. Hei-de mostrar aqui esse colo imenso e também o que vejo quando olho da Escola da Levada (o nome oficial é outro). Mas há também o que não vejo e provavelmente não verei e, desta vez, o meu computador recebeu centenas de fotografias das caminhadas do amigo José Luís, professor de Matemática. De uma caminhada pelo Porto Santo, aqui vos mostro o aspecto de uma encosta do Pico Ana Ferreira.




Fotografia digital de J. Luis Freitas

No aeroporto das pedras rubras

me encontro e a utilizar uma máquina simpática que me dá acesso completo à internet (e graciosamente!). O voo para a Madeira está atrasado, mas eu posso nem dar pela demora na chegada à ilha encantada pela proposta não negociável (e irrecusável:-) de revisão constitucional de AhhhhAhhhhJardim. Vou ler o correio.

Portas que se fecham e se abrem.

No último fim de semana, Paulo Portas fez o seu regresso à politica na qualidade de dirigente do Partido Popular. Com o seu tradicional jeito para feiras, festas e romarias, o PP fez a sua “rentrée” no Pavilhão das Feiras. Em Aveiro, claro.

Nestas alturas, os partidos apresentam as ideias a que querem dar um novo impulso. Como partido da coligação no poder, o PP afirma-se solidário com a politica do governo PSD/PP. Esperamos que a politica do governo de coligação não seja a politica do PP, embora haja quem diga que tem mais peso nas decisões do governo do que o que lhe foi conferido pelos votos dos eleitores. Isso são contas da coligação. Mau seria, de facto, se um partido minoritário de direita fosse dominante num governo feito na base essencial dos votos noutro partido (do centro). As intervenções de Aveiro mostram um P. Popular a avançar com ideias que pretendem influenciar futuras políticas da coligação. Em boa medida, como já tinha feito em anteriores campanhas, P. Portas exagera para obter alguma coisa no que respeita à imigração. As ideias reduzem-se a algum populismo rasteiro: “somos portugueses, temos problemas económicos e muito desemprego, logo temos de fechar as portas aos imigrantes que demandam Portugal”.

Quando Pacheco Pereira vem a terreno combater, publicamente e de forma radical, as ideias de Paulo Portas, ficamos a saber que o que P. Portas defende está longe de ser consensual na coligação do poder. P. Pereira escreve mesmo que P. Portas, com as suas intervenções está a pôr em causa a politica de Administração Interna da coligação. Haja saúde. Brindo a isso, porque será dramático se a nossa politica for fechar as portas aos imigrantes, porquanto somos um pais de emigrantes, muitos deles em países com tantas dificuldades económicas como o nosso e com muitos mais desempregados. O nosso pais já tem grandes constrangimentos relativamente à imigração por via dos tratados europeus e dificilmente suportará novos- O que diz P. Portas só serve para atiçar algumas atitudes e movimentos e ressuscitar valores bolorentos tão queridos de alguma da direita portuguesa. E obviamente serve para cativar e segurar votos xenófobos e associados. A intervenção de politica interna de P. Portas serve para pressionar a coligação e é enunciado auto-proclamado da ideologia mais ou menos isolacionista e trauliteira.

P. Pereira apresenta os seus pontos de vista em tudo contrários aos de P. Portas e acrescenta mesmo, a título de exemplo, que o desemprego dos operários portugueses não se resolve com o emprego dos imigrantes. Exactamente pelas mesmas razões que garantem não valer a pena fechar portas ou expulsar os portugueses da França porque eles estão em empregos que não são tomados pelos desempregados franceses (no que isso pudesse ser significativo).

Também ficamos a saber que o P. Popular quer reforçar a sua frente de combate no campo da ideologia (e da cultura? da arte? da…?) que, a acreditar neles, é mais campo em que dominam as esquerdas. P. Pereira é quem trava essas guerras e fá-lo sozinho.

Gostei de ter escrito um artigo sobre os vários PPs em disputa. Saio para a esquerda do palco e refresco-me na sombra de saber que estão em desacordo.


[o aveiro; 18/09/2003]


Arafat Mártir? Ariel doido?

Vim aqui só para chamar a atenção para o editorial do Público, hoje escrito por Nuno Pacheco. Levanto-me de manhã cedo e leio o jornal. Muitas vezes penso que não resisto a entristecer-me. Umas vezes porque leio opiniões que me parecem completamente ao lado das pessoas que eu conheci e as escrevem. Outras porque as notícias e as opiniões dão-nos a vida tal qual ela está a ser e não está a ser bem. Há povos que vivem a morte em vida.

Para além de outros textos sobre a actual situação, o texto pequeno de Nuno Pacheco, Arafat mártir?, é muito recomendável, do meu ponto de vista (que é sempre o meu ponto de fuga).

Inducassao

"Começar a trabalhar aos 16 anos é demasiadamente tarde para se aprender uma profissão". Estas pérolas cairam da boca de um autarca, licenciado em Direito, durante a primeira sessão do Conselho Municipal de Educação da minha territa.
Percebi, acho eu, que o homem quer que o seu partido altere a legislação, permitindo que as entidades patronais tenham ao seu serviço crianças menores de 15 anos para "aprenderem a trabalhar e a ganhar o gosto pelo trabalho".
No país da Europa cujos cidadãos têm a menor taxa de escolarização da Comunidade, esta frase é simbólica, profética, lapidar.

Desenho 7 - da concentração em reunião chique




11 de Setembro


11 de Setembro é o dia de fantasmas, esqueletos do nosso armário que ocupa todo o espaço desde a actual civilização à barbárie actual.

1. Há dois anos, o ataque terrorista contra Nova Iorque abalou o nosso mundo e não foi senão um assomo do terror que ajudou a espalhar um pouco por todo o mundo. Quantas vítimas inocentes morreram nesse dia? Quantas vítimas depois disso?
O que deu? Guerra total- escreve Pacheco Pereira (Público).

2. Não posso deixar de recordar o dia do golpe de estado no Chile, de há 30 anos. Quantas vítimas? No dia, nos dias seguintes, nos meses seguintes, nos anos seguintes, ? quantas vítimas?
E quantos sonhos quiseram matar? Só que os sonhos não morrem. Para perceber isso, nada melhor do que ler Memorial dos anos felizes de Luís Sepúlveda (Público, também)

Um dia não são dias?

as duas pastas

Trago sempre duas pastas dentífricas dentro da pasta onde guardo também alguma roupa interior e lenços de assoar. Nunca me foram úteis a...