1.
só diz nunca mais
quem não sabe de quantas mudanças
são feitos os dias de cada um
minha mãe perguntava para onde vais
tu que não tens jeito para danças
só podes ir a lugar nenhum
sabendo que eu acabava por partir
para onde ninguém me esperava
pelas ruas nuas e em estações vazias
para onde o frio que estava por vir
vinha zangado e em cada rajada gritava
a terrível solidão das noites mais frias
só diz nunca mais
quem não sabe adivinhar o choro no fado
que nos diz que tudo será como deus quer
minha mãe chorava sem ter ido a qualquer cais
separar-se do filho que voltara já enterrado
na pressa de não fazer viúva a que seria sua mulher
2.
nunca mais a escuridão nos dias claros
nunca mais antes a morte que tal sorte
de assobiar para espantar o medo
podemos dizer agora nunca mais porque agora é cedo
porque sabemos que a morte qual vida eterna? é mesmo morte
e já morreram os abraços dos amigos cada vez mais raros